- Todo mundo diz que eu sou um anjo sabe?
-
Sei.
-
Eu não sei porque… mas me incomoda isso às vezes.
-
Em que vezes?
-
Por exemplo, numa festa que eu fui… eu estava incomodado lá.
-
O que te incomodava?
-
Não sei… eu olhava para todo mundo e ficava sem saber o que fazer sabe?
-
Sim… o que será que você tinha que fazer?
-
Não sei… o que?
-
O que você queria, talvez?
-
Ah… isso é tão complicado para mim…
Ser “bom”. Poucos são os adjetivos que encontrei em meu consultório que possuem um poder tão forte sobre as pessoas.
Nossa cultura possui um apelo muito grande para esta característica e ela está associada com inúmeros significados, desde o aspecto moral de “ser uma boa pessoa” até os ligados à competências como “ser bom no futebol”. A palavra “bom”, no entanto, é muito infeliz porque sempre falha em demonstrar especificamente como a pessoa se torna “boa”.
Por este motivo, as pessoas assumem uma postura altamente perigosa para o seu auto desenvolvimento e para a sua auto estima que é buscar nos outros as referências sobre o que é ser ou não ser bom. Assim ser “bom” acaba sendo ser um depositário de expectativas de pessoas próximas, o que é um problema para a pessoa que quer “ser boa”.
Mas, porque uma pessoa quer ser boa?
Ser bom, apesar de algo indefinido é, também, algo altamente valorizado. Muitas pessoas desejam este valor atribuído à si e, por esta razão fundamental, perseguem este valor. Ocorre, então, que ser “bom” se torna algo social, como um status ao qual a pessoa sente-se presa por um lado e reconhecida por outro, verdadeira catástrofe emocional. Porque? Simples: de um lado ela mantém-se fazendo aquilo que as pessoas dizem que uma pessoa boa faz e aí ela recebe o reconhecimento, de outro, ela deseja fazer aquilo que ela quer, o que vai contra, muitas vezes, aquilo que os outros querem; o resultado: conflitos emocionais.
O conflito se baseia no seguinte dilema: fazer aquilo que desejo ou manter o status de “bom”? Livrar-se deste status significa assumir-se tal como é e ser ou não julgado de bom mediante o que eu desejo fazer. Manter-se bom significa manter o foco no desejo do outro e, com isso, o status de bom, porém ao custo da auto estima e dos desejos pessoais.
A solução, talvez, esteja no fato de que se a pessoa “almeja” ser boa, ela está, por definição não o sendo. Explico: ser bom é algo relativo à identidade da pessoa, ela “é” boa. Assim sendo ela somente poderá “ser” à medida em que ela própria identificar-se com esta percepção de si. Se isso não ocorrer ela até poderá “ser” boa aos olhos dos outros, mas não aos seus, o que causa um conflito de interesses. Assim sendo o principal à fazer é ajudar a pessoa a se identificar com a percepção de ser bom através do que ela mesma percebe no seu comportamento. Ao fazer isso ela precisará dar a sua própria opinião sobre o que julga ser ou não uma boa ação e, com isso, assumir uma ação e ao mesmo tempo uma percepção de si não precisando mais dos outros para julgarem suas ações por ela.
E você quer ser bom?
Abraço
Visite nosso site: www.akimpsicologo.com.br
- Tags:Akim Rohula Neto, Amor próprio, confrontar, conquistas, Crises, Desejo, Escolhas, foco, Moral, Moralidade, Mudança, Psicoterapia