- Tenho sentido muita tristeza nesses dias sobre eu e minha família.
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Hum e porque?
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Porque entendi que eu não tenho um lugar lá dentro sabe?
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Ah é? Mas você mora lá, não mora?
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Ah sim… mas… “eu” sabe? Eu sinto que “isso” não tem lugar lá!
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Entendo… E aí dentro de ti, tem?
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Como assim?
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Dentro de você, existe lugar para aceitar que você é diferente da sua família?
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Puxa… não sei… não havia pensado nisso!
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Hora de pensar então, não é?
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É!
Nathaniel Branden diz que a auto estima no mundo atual é mais do que uma característica boa para se ter, é uma necessidade vital para sobreviver emocionalmente. Esta colocação vai de encontro a ideia de que quanto mais escolhas temos que fazer mais temos que saber sobre nós mesmos afim de sabermos traçar nossas metas com convicção e segurança pessoal o que resulta numa boa qualidade de vida afetiva. A colocação de Branden vale também para os relacionamentos afetivos, visto que quanto mais sabemos sobre nós, melhor fazemos nossas escolhas, colocamos limites, negociamo e amamos.
Mas e o que se faz quando a pessoa tem medo de se colocar? Quando o bálsamo que irá ajudá-la a viver uma vida plena é exatamente aquilo que ela mais teme?
Muitas pessoas aprenderam em suas vidas que elas não são importantes, o que importa é o que se espera delas, a função que elas tem à prestar para família, conjugue, filhos e sociedade. Isso não impede ninguém de se desenvolver bem, ter um bom emprego e ser uma pessoa sociável, porém, atrapalha muito a atitude dela ao colocar as suas emoções e necessidades em várias áreas de sua vida.
Ocorre que quando se pensa que o importante é agradar ao outro, o foco das escolhas e das decisões é a outra pessoa. Isso cria uma hipersensibilidade ao que o outro fala, pensa, sente e deseja e minimiza aquilo que a própria pessoa sente, pensa e deseja. Em alguns casos, inclusive, a pessoa toma o outro em detrimento do seu, ou seja, não é apenas uma minimização, mas sim uma troca de um pelo outro.
O que existe em comum nestes casos é um medo relacionado aos desejos, sentimentos, pensamentos e necessidades pessoais. A pessoa aprende que “o que é dela” é, de alguma maneira errado e por isto além de colocar o outro na frente, ainda teme o que é seu. O primeiro passo é ir direto neste ponto e desmistificar as ideias que sustentam o fato de que “o que é dela é errado”. Ao flexibilizar esta ideia a pessoa pode começar a ver o que é dela e dá certo e é bom e a faz sentir-se bem, essa percepção irá ajudá-la a colocar-se mais em sua vida porque irá produzir a sensação de merecimento e respeito por ela própria.
Um dos medos mais comuns que vem à tona neste momento é o medo da exclusão, abandono ou de ficar só. Este medo é altamente compreensível quando se pensa que a pessoa passou uma vida toda entendendo que o valor dela era proporcional à satisfação dos outros para com ela. Logo o outro assume um papel fundamental em sua vida e a simples noção de “estar só” (que é diferente de ficar só) é aterrorizante.
O medo, no entanto, é uma ilusão de que a pessoa não irá conseguir viver “sozinha”. A fantasia que se cria foca o dia a dia e as relações cotidianas, porém é a metáfora de um medo interno de se assumir e de ficar tranquilo dizendo para si que as escolhas que a pessoa está fazendo são aquelas que ela deseja ter e que são boas para ela e que se não o forem, ela fará novas escolhas. Porque isso causa medo? Porque a pessoa não sabe lidar com isso. Ela se treinou para dar valor ao outro e não a si, logo quando passa a fazer o contrário é esperado que o medo apareça.
Compreender este medo é importante. Saber que o que tememos de fato é assumir a vida que existe dentro de nós com as várias implicações que ela tem. A solidão é um medo fantasioso que, na verdade, se refere à “saída de casa” e ida para o mundo. Quando o cliente me diz “tenho medo porque acho que não tenho um lugar na minha família se eu for mais eu mesmo” o que leio é: “tenho medo de assumir que sou diferente e que o meu caminho pode não ser o mesmo da minha família”. Porém, aceitar este medo e buscar vencê-lo é justamente aquilo que faz a pessoa crescer. No final, não se trata se a família vai ou não aceitá-lo como é, mas sim se ele irá aceitar o seu próprio “destino”.
Existe uma frase que gosto de usar neste momento que é a seguinte: “não existe preço alto quando o assunto é a sua própria alma”. Esta frase é importante para nos lembrar do que é importante: a auto expressão. Não se trata do resultado final, mas sim da sensação de fazer algo que lhe dá vida, que lhe conecta com algo maior do que você mesmo, que te dá sentido de realização pessoal, que te conecta com pessoas que acrescentam para você, que lhe dá prazer, compromisso e orgulho. O resultado final depois de tudo isso é o de menos, é a cereja do bolo.
Assim, que tal assumir mais você?
Abraço
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