• 16 de julho de 2014

    Defender-se

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    • Mas e como que eu faço?!

    • Vamos por partes: o que, especificamente você está sentindo?

    • Raiva oras! Ele chega e me diz aquilo… quem ele pensa que é!?

    • Ok, raiva do que ele disse?

    • Não… é que… ele falar isso… eu sinto como se ele estivesse achando que pode mandar em mim, entende?]

    • Claro… que tipo de resposta você precisa dar então?!

    • Mandar ele se ferrar!

    • Pense se isso vai produzir o efeito que você realmente quer… o que você realmente quer?

    • Hum… na verdade… eu quero poder dizer não ou sim sabe? Tipo, não para o que eu não quero e sim para o que eu quero!

    • Perfeito, mandar ele se ferrar vai ajudar nisso?

    • Não…

    • O que ajudaria então?

    • Eu ser bem honesta com ele, ser firme no que eu quero e quando ele vier querendo “mandar em mim” eu simplesmente decidir o que eu quero com aquilo e dizer, fazer entende?

    • Sim… me parece mais apropriado não?!

    • É sim!

     

    Aprender a se defender é fundamental para qualquer ser humano. Não porque o mundo seja um lugar ruim ou porque as pessoas são más, mas porque a nossa integridade tem um custo e sustentar ela é este custo, a defesa faz parte da sustentação.

    É como uma tese de mestrado ou de doutorado que precisa ser “defendida” frente à uma banca que testará a capacidade da tese em se sustentar. Defender-se é um exercício de soberania sobre suas próprias convicções.

    Assim ter uma convicção clara para si é o primeiro passo para poder defender-se. Muitas pessoas em meu consultório reclamam que as pessoas “passam por cima” delas, no entanto, quando pergunto que limites elas aplicam nas suas relações ela ficam mudas sem saber o que dizer.

    Desenvolver convicções, crenças, regras pelas quais você sente que deve guiar a sua vida e pela qual você deseja que as pessoas interajam com você é o primeiro passo para poder defender-se. A partir disso que você poderá dizer “sim” ou “não” para qualquer pessoa assim como saber quando se aproximar, se afastar, romper uma relação ou ter uma conversa séria com alguém.

    O segundo passo é permitir-se sentir raiva. Aqui preciso dar um grande passo atrás para dar dois à frente. Quando digo “permitir-se sentir raiva”, não estou afirmando que você deve permitir-se esbravejar, gritar e nem ser agressivo com os outros. O que quero dizer é que a emoção da raiva precisa ser sentida visto que é esta emoção que sentimos quando nossas convicções são desrespeitadas. E este é o único motivo pelo qual a raiva é importante, é ela quem nos avisa, de alguma maneira que estamos sendo violados em elementos fundamentais para nós.

    Um outro adendo é que, muitas vezes, a raiva precisa ser filtrada, ou seja, ao sentir raiva é sempre importante fazer-se a pergunta “essa pessoa, com este comportamento, está visando, realmente, violar algo importante para mim?” É muito comum que as pessoas sejam sensíveis às suas convicções e levem para o lado pessoal atitudes que não são ofensivas, mas acabam sendo sentidas como ofensas.

    Assim, permitir-se sentir raiva é uma etapa importante porque esta emoção, quando passa pelo crivo que coloquei acima, é o gatilho do comportamento de se defender, visto que ela provoca as reações de luta ou fuga.

    Defender-se por ser, muitas vezes, sair de perto (fuga), por exemplo: um casal começa uma discussão e num determinado momento um dos dois grita e xinga o outro. É uma atitude defensiva elegante dizer: “não quero discutir com você neste nível, quando se acalma continuamos”, virar as costas e sair de perto. Outras vezes a defesa precisa ser mais acirrada (luta), impondo limites, por exemplo: olhe, sei bem que você quer as coisas do seu jeito, mas eu também existo e também preciso ter o meu espaço de expressão”.

    Estes dois exemplos constituem o terceiro passo que é organizar uma resposta emocional e comportamental adequada para se defender. Não existe uma resposta “melhor” ou “correta”v sempre, elas dependem da pessoa que é agredida, do agressor, da relação entre os dois, da situação e dos objetivos daquele que quer se defender. Todos estes elementos se combinam para criar a resposta.

    Além disso é importante que o comportamento esteja alinhado com as crenças e identidade da pessoa. Muitas vezes vejo clientes tendo atitudes que – por si só – não são inadequadas, mas não combinam com o estilo de ser da pessoa e acabam por gerar culpa e ansiedade posteriormente. Quando isso ocorre a atitude de defender-se acaba se tornando um problema para a pessoa porque ela se sentirá culpada por ter feito algo correto, porém de uma maneira inadequada.

    Por outro lado, quando a resposta está adequada a sensação é de conquista pessoal e de confiança o que contribui para manter a resposta e defender-se novamente de outras maneiras, ampliando o leque de comportamentos que a pessoa possui. Este é, no final das contas, o objetivo geral de aprender a defender-se: ter várias maneira para fazê-lo, ter um leque amplo que lhe possibilite levar a sua auto expressão para todos os campos que você queira.

    Abraço

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