- E foi nesta semana que eu percebi o que aconteceu comigo.
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Hum, me conte.
-
Sabe… as coisas aconteceram tão rápido e com uma intensidade tão grande…
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Sim.
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Eu não estava me sentindo direito… agora só que eu percebo o quanto que eu me larguei… a verdade? Eu não aguentava mais.
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Exato. Também via isso.
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Eu queria continuar… estava fazendo isso… mas não conseguia mais… estava demolida por dentro, mas não conseguia nem perceber.
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Sim… isso acontece quando estamos demolidos por dentro… nem percebemos.
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É… esta semana foi que percebi isso sabe?
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Que bom, agora você pode se cuidar melhor então não é?
-
Sim…
O tema de hoje é como a foto: duro e chocante.
Stanley Keleman nos fala sobre as “agressões à forma” que todos nós sofremos e que são importantes para o nosso desenvolvimento. São elas que nos ajudam a usar o nosso corpo, nossa mente e emoções de maneiras diversas para crescermos. Porém, em algumas situações as agressões são muito intensas ou muito repetidas ou ainda não temos as habilidades necessárias para lidar com elas de maneira que nossa forma – usando a linguagem de Keleman – começa a sofrer danos mais consideráveis.
Existe um continuum, ou seja, estágios pelos quais a forma passa enquanto está sofrendo estas agressões. O último destes estágios é o colapso. É quando o organismo assume um nível basal de existência apenas para manter as funções básicas existindo. Há uma diminuição de tudo no organismo para “ficar menor” e assim buscar evitar a agressão ou receber o menor impacto possível dela. Este último refúgio é muito danoso ao aspecto emocional e psíquico.
Pela teoria de Keleman podemos pensar no colapso de duas maneiras: a primeira como uma estrutura que já vem com a pessoa desde muito cedo em detrimento de suas histórias familiares e de vida como um todo. Trata-se, neste caso, de um colapso à longo termo que faz parte de como a pessoa funciona no mundo, percebe o mundo, as pessoas e à si própria. A segunda maneira é de perceber o colapso como reação à uma agressão ocorrida num determinado momento da vida, como um sequestro, por exemplo. É sobre este segundo aspecto que vou falar porque ele é super comum em minha prática clínica.
O colapso vem quando a agressão é demasiada forte, muito prolongada ou quando a pessoa não possui as habilidades para se defender adequadamente. Ela faz, então, uma retirada estratégica do mundo, diminui sua libido assim como sua sexualidade, ela começa a orbitar as relações humanas, busca por auxílio mesmo sem estar em contato, ou seja, quer suporte, mesmo se isolando. Toda a energia da pessoa – e ela possui – fica represada dentro dela, não há motivo para ir para o mundo, “não vale a pena” é o que ela pensa.
Esta frase “não vale à pena” mostra uma completa resignação, obediência e falta de esperança não apenas em relação ao mundo, mas à si mesmo. O desespero, sensação de abandono, fraqueza são alguns dos estados emocionais comuns neste momento. Apatia, falta de interesse, desejo de contato e medo de contato ao mesmo tempo, se mostram numa busca por estar vivo e ao mesmo tempo medo desta experiência – que já se mostrou tão danosa.
Quando uma pessoa se encontra em colapso, tudo aquilo que move um ser humano em direção à felicidade foi tão severamente punido que ele teme este impulso e precisa jogá-lo para dentro de si, ao mesmo tempo que anseia colocar este impulso para fora a pessoa também o teme. Este é o grande drama até porque ela não sente – e muitas vezes não possui – a força necessária para suportar esta energia.
Assim quando o colapso ocorre o erro é desejarmos sair dele. Porque é um erro? Porque se a pessoa tivesse os recursos necessários para sair ela não teria entrado em primeiro lugar. O que precisamos fazer é dar suporte num primeiro momento, ajudar a reconhecer o colapso e a partir disso ajudar a pessoa a – na linguagem de Keleman novamente – a inflar, a se tornar ereta e crescer. O apoio à auto estima, ajudar a pessoa a reconhecer seus ritmos e desejos, sentir e conter a excitação emocional para gerar a energia e a estrutura que ela precisa para dar seus passos.
O principal ponto em relação à estrutura colapsada não é o “fazer”, mas sim desenvolver dentro dela um recipiente que possibilite que a energia transite no corpo, dê ao mesmo sustentação, excitação e tensão suficientes para suportar o contato com seus desejos e com o mundo. Restaurar a pulsação e o contato com o interno e o externo é o que vai ajudar a pessoa a perceber que “é possível” e que “pode valer à pena”. Isso é muito mais importante do que o ato de “fazer qualquer coisa para parecer bem” que é o que a maior parte das pessoas deseja fazer. Pois é a partir desta restauração que a pessoa conseguirá dar seus passos e fazer algo, mas o grande drama do colapso não é fazer ou não fazer, mas sim se permitir sentir novamente e perceber que vale à pena ir para a vida.
Abraço
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