- Eu descobri uma coisa sobre o meu término
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O que foi?
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Que o pior não foi ter terminado.
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Não… o que foi?
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Eu já não estava muito bem antes.
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Sei.
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E isso foi o pior, porque eu entendi algo que me deixou bem mal
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O que?
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Que eu tinha me deixado… muito antes de ter sido deixada.
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Hum… cruel não?
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Sim e até percebo que ele não poderia me amar mais mesmo, porque eu me abandonei… não era mais uma pessoa “apaixonável”
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Sim… entendo…
Quando entramos em um relacionamento é natural que a nossa identidade se dissolva levemente na identidade do outro e na relação em si. Isso é um processo natural, normal e que é saudável para a manutenção e crescimento da relação. É quando começamos a nos pensar em relação ao outro e em relação à nossa própria relação. Quando uma decisão é refletida a partir do nosso querer e do que é melhor com relação à um terceiro e à relação que tenho com esta pessoa.
Quando a pessoa, no entanto, passa a refletir tudo apenas em relação ao outro existe um problema. O que não é saudável é quando a relação e o outro são colocados em primeiro lugar e/ou sempre em primeiro lugar. Porque isso é danoso? Pelo fato de que isso coloca as necessidades pessoais de quem age assim sempre em segundo plano e elas não podem estar sempre em segundo plano, outro efeito colateral é sentir culpa pelo fato de desejar alguma coisa que é tão danoso quanto o primeiro.
Se o conjugue se torna o único da relação não existe mais relação. Tudo o que ocorre passa a ser um pedido desesperado por afeto e aprovação. Esta humilhação desgasta qualquer pessoa e qualquer relação, é apenas quando existe um parceiro com quem interagir que algo pode ocorrer. Você pode dançar sozinho, mas não pode dizer que está dançando de dois enquanto dança sozinho. A pessoa que coloca o outro sempre em primeiro lugar está fazendo exatamente isso, deixando o outro dançar sozinho. É uma forma de abandono porque quando a pessoa se abandona ela deixa o outro sem ela e é uma dor muito difícil e estranha de ser sentida.
Para reverter o quadro não basta voltar a fazer as coisas que você gosta de fazer. Isto é importante e necessário e faz parte de um processo que é aprender a se recolocar perante si mesmo em primeiro lugar. Este é o processo mais importante. Aprender a merecer novamente apenas por si, dizer “nãos”, colocar a sua vontade e, por vezes, fazer algo sozinho. A relação lucra muito quando ambos conseguem ter vidas próprias além da vida em conjunto. Novamente, como eu disse existe algo saudável em deixar sua identidade se fundir com o outro e com a relação, porém os limites precisam ser estabelecidos e o limite é quando eu sei que eu ainda sou eu e tenho esta diferença bem posicionada. É quando sei que amo o outro e mesmo assim sei que não preciso concordar com ele em tudo e que não preciso ceder à tudo para ser amado por ele.
É importante que fique registrado que o fundamental não é o afastamento do outro, mas sim a aproximação consigo. Não se trata de não fazer porque é o outro quem está pedindo, mas sim de não fazer – por exemplo – porque é algo que me agride, com o que não concordo radicalmente. Ou então, de se permitir fazer algo que seu conjugue sugeriu porque lhe parece uma boa dica. Sempre coloco para alguns clientes que você só se perde numa relação caso se abandone, não é o outro – neste sentido – que nos abandona, mas sim, inicialmente, nós mesmos. A dor de perder alguém que amamos só pode ser comparada à dor de perdermos a nós mesmos. A boa notícia é que estamos aqui para podermos reatar o contato conosco, para isso, precisamos abrir o peito e ousar novamente.
Abraço
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