• 3 de outubro de 2014

    Mundo interno

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    • Sabe Akim… eu acho que eu estou com medo.

    • Hum… o que te faz “achar” isso?

    • Eu estou querendo algo, mas me sinto recuando, apreensivo com o que quero.

    • Entendo, você sente que pode se ferir de alguma maneira se for atrás desse desejo?

    • Sim.

    • Me parece que o medo está “correto” e muito bem alocado. O que te faz achar que pode se machucar?

    • Bem, eu já me envolvi antes, como você sabe… e foi muito difícil. Eu tenho um certo receio de relações…

    • Claro… vamos trabalhar com este medo então. Que bom que ele veio não é?

    • Sim… eu me lembrei que você disse da última vez que era para eu ir com calma e ouvir meu medo… mas não deu naquele momento…

    • Que bom que agora está dando e você poderá, então, mudar isso em ti!

    • É…

     

    Aprender a criar contato com o “mundo interno” talvez seja uma tarefa árdua para muitas pessoas. Nem todos nós vivemos vidas que proporcionaram um desenvolvimento feliz e recompensador desta habilidade.

    Quando o nosso desenvolvimento não proporciona os elementos adequados para que este contato seja bem sucedido, a pessoa pode desenvolver uma reação negativa ao que “vem de dentro” passando a negar ou desvalorizar aquilo que sente e que percebe. Obviamente esta é uma receita fácil para muitos problemas emocionais e até mesmo sociais, pois visto que nossas emoções influenciam a escolha de parceiros, delimitação de limites e o próprio desejo, não estar num contato fino com elas podem ocasionar em decisões mal tomadas.

    Nestes casos não se pode forçar um contato, porque isso seria mais uma violência com a pessoa. É importante, antes disso que a pessoa entenda que é necessário este resgate e que a vida que viveu não é um determinante da vida que ela poderá levar. Sim, muitas vezes negar nosso mundo interior pode ser a saída para conseguirmos sobreviver emocionalmente, mas viver para sempre assim não é algo saudável e, com o passar do tempo e das experiências, em geral novas oportunidades de relações melhores se apresentam.

    Com isto em mente aprender a reconhecer estados sensoriais como frio, fome, calor, dor e prazer é o primeiro passo. Embora possa parecer algo simples, quando se passa muito tempo negando o contato com nossa realidade interna estes elementos se tornam estranhos. Como fazê-lo? Da maneira mais simples e poderosa: a partir da experiência. E é muito interessante porque isso demora um pouco a ocorrer, a pessoa deve passar por mais de uma experiência de tomar um banho quente, por exemplo, para aprender a ter contato com o efeito disso nela. Não se trata de saber que a água esta quente, mas sim de sentir o calor e a sua repercussão no nosso corpo, no nosso estado de espírito.

    O contato com a respiração e com o corpo é um segundo passo importante. O corpo é “onde” vivemos, ele é o responsável pelas sensações que temos do mundo, assim sendo, nosso contato com ele é fundamental. A respiração tem uma ligação direta para com nossas emoções e estados psíquicos, assim quanto mais uma pessoa aprende a respirar melhor seu contato com o mundo interno. Novamente não é uma questão de saber, mas sim de perceber e se entregar às sensações.

    Aí, então, temos o substrato para que a pessoa consiga falar de suas emoções, percebê-las e poder, lentamente, a agir com elas ao invés de negá-las ou desvalorizá-las buscando sempre uma imagem “forte” – que melhor se traduz por fria – de quem nada sente ou que não precisa se importar com o que sente. É um caminho que envolve ansiedade e um pouco de angústia que vem quando emoções mais fortes ou mais enraizadas começam a ser tocadas, mas que também envolve a descoberta do prazer e a sensação de amizade com as próprias emoções o que gera uma sensação de “eu” mais coesa.

    É, também, uma construção. As pessoas costumam usar o termo descoberta, mas eu prefiro o termo construção porque se trata não de descobrir o que há lá dentro, mas sim de como a pessoa irá reagir aquilo e o que ela vai fazer dali em diante. Ela constrói o seu próprio eu ao invés de simplesmente descobrir algo que já está lá dentro (quem teria colocado “aquilo” lá?). Assim além de um desbravador das próprias sensações a pessoa é, também e preferivelmente uma criadora de si. E este processo é lindo de se ver.

    Abraço

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