- Ai Akim, eu fiz tudo errado.
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O que e porque você fez errado?
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Você me pediu para eu pensar em mim no final de semana lembra?
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Lembro.
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Então, a minha namorada ia fazer aniversário e eu queria muito fazer uma baita surpresa para ela.
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Sei.
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E eu peguei e fiz e aconteci e foi muito legal, mas depois eu pensei: cara… não estou pensando em mim.
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Você é uma pessoa que gosta de surpresas?
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Sim, eu adoro fazer isso. Gosto de receber também (risos)
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É ótimo não? Mas me diga: se você gosta de fazer surpresas e se sentiu bem fazendo isso, será que não pensou em você?
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Não tinha pensado assim…
Nathaniel Branden escreveu uma frase que eu adoro: “Auto–estima é o estado da pessoa que não está em guerra consigo própria nem com os outros”.
Esta frase é uma das mais importantes do meu trabalho enquanto psicólogo. Um dos focos do meu trabalho é a busca pela auto expressão e um dos quesitos básicos para se alcançar isso é aprender a se colocar em primeiro lugar. Como vivemos em uma sociedade altamente competitiva a maior parte das pessoas pensa que se colocar em primeiro lugar significa colocar os outros em segundo. Isso é uma falácia que a frase de Branden ajuda a dissolver.
A pergunta que as pessoas geralmente se fazem é parecida com “ok, me coloco em primeiro lugar, mas e os outros?”. Colocar-se em primeiro lugar não tem nada a ver com o outro porque não é uma competição com ninguém. Não se trata de tirar alguém de algum lugar e colocar outra pessoa lá. Significa, antes, que a pessoa precisa aprender a lidar com a sua percepção da realidade, suas necessidades e desejos. Não envolve o outro e ao mesmo tempo não o exclui, isso significa que não hã problema nenhum com “os outros” quando nos colocamos “em primeiro lugar” ou quando “pensamos em nós”. Um segundo ponto para esta pergunta é que quando se diz para pensar em si, isso inclui as suas relação ao invés de excluí-las, o problema, como eu já disse é cultural onde “eu em primeiro” exclui os outros neste clima de competição que temos.
“Pensar em si” tem a ver com estar em contato com aquilo que você sente, pensa e deseja. Tem a ver, também, com suas relações, seu trabalho, seu mundo. O ser humano não é definido apenas pelo interno, mas também pelo externo, assim quando você se envolve com seu mundo também pode estar se envolvendo com você. E este “pode” é o desafio da auto estima. Posso fazer um voluntariado porque isto tem a ver com a minha essência e aumenta a minha auto estima ou posso fazer isso para fingir que sou bom e, com isso, apenas aplacar uma culpa e não gerar auto estima em mim.
Pensar em você tem a ver com isso. Tornar o seu universo interno e externo um ambiente que lhe ajuda a evoluir moral e emocionalmente, um ambiente que lhe permite realizar a sua auto expressão. Portanto “pensar em você” não exclui os outros, não exclui o mundo, mas sim inclui ambos elementos de maneira à relacionar (ligar novamente) a sua evolução pessoal ao seu próprio universo e relações. O que a maior parte das pessoas fazem é dar mais ênfase no externo por medo de perdê-lo ou por seguir um conjunto de regras que lhe fará sentir culpado se não o fizer. Isso não é bom nem para si, nem para os outros pois não é honesto.
Assim, quando trabalho com as pessoas sempre trago a questão da motivação para fazerem o que fazem. O que aquilo irá trazer para você? O que fazemos, per se, não são coisas certas ou erradas, mas sim em relação à um dado objetivo podem ser melhores ou piores para nós. Podemos nos ajudar a evoluir ou a nos mantermos na zona de conforto e é aí que “pensar em você” pode ser altamente incomodativo. Esse é, inclusive, uma outra falácia sobre o “pensar em si”: de que quando pensamos em nós ficamos na zona de conforto, muito pelo contrário: é quando a pessoa resolve pensar de verdade nela que ela começa a se incomodar.
Esse é outro foco do trabalho de terapia: saber incomodar. Toda mudança ocorre quando a pessoa percebe que ela é importante e pensar em si ajuda a perceber esta necessidade. É muito fácil dizer “eu sou assim porque meus pais me fizeram assim”, colocar a responsabilidade no outro e tocar a vida. Responsabilizar-se pelo que fizeram conosco e decidir agir segundo nosso próprio pensamento é uma atitude que sempre provoca uma certa angústia e muitas dúvidas. Assim quem “pensa em si” ao contrário de ser um acomodado é, na verdade, um incomodado.
Assim, gostaria de fechar este post deixando estes dois pensamentos que mais vejo na clínica para que você reflita sobre “pensar em você”. Inicialmente: você está incomodado? O seu “pensar em si” lhe traz desconfortos, incômodos, desejos que você precisa resolver, enfim: ele lhe põe em ação? Se não, pense novamente porque é possível que você esteja apenas fingindo pensar em você e não realmente tendo esta atitude. Depois disso entenda: o seu universo e suas relações fazem parte de você, logo quando se “pensa em você” esses elementos têm sido considerados? Se não, pense de forma à incluí-los, pois eles são uma parte de ti mesmo.
Abraço
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