- Eu não sei mais o que fazer.
-
Ok, então vamos perguntar ao “não eu” o que fazer.
-
Como assim?
-
O que você faria nessa situação se você não fosse você?
-
Hum… não sei…
-
Se contasse isso á um amigo, o que ele diria para você fazer?
-
Bem… acho que me diria que eu devo esquece de pensar e seguir meus instintos.
-
Como seria fazer isso?
-
Diferente, não sou assim.
-
Quem sabe pode ser algo interessante?
Embora muito do meu trabalho seja a afirmação do “eu” e a busca pela auto expressão, muitas vezes o “eu” é algo que limita a evolução da pessoa. O que fazer nesse caso? Obviamente esta pergunta possui várias respostas e não pretendo aqui dar “a” resposta, mas sim uma possibilidade. Esta possibilidade é simples: largue ele.
Muitos são os processos que ocorrem em nós e que não conseguimos identificar como sendo “eu”. Quantas vezes já nos dissemos: “nem parecia eu”? Isso mostra algo um tanto perturbador para a nossa sociedade altamente identificada com a noção de “eu”: que nem sempre agimos com base em algo com o qual nos identificamos. Explico: aquilo que chamamos de “eu” é uma parte e não um todo. O todo envolve muitas camadas as quais jamais ousaríamos chamar de eu. Combatentes de guerras relatam muito esta sensação ao terem realizados atos no campo de batalha que jamais realizariam em suas vidas normais e, no entanto, ali estava “ele” fazendo algo com o qual não se identificava.
Outras vezes aquilo com o qual não nos identificamos pode ser exatamente aquilo que é importante para a nossa auto expressão. Confuso? Repito: fazer algo que achamos que não é nosso pode ser a chave para nos expressarmos tal como nos percebemos. A auto expressão não evolve apenas aquilo que concebemos como “eu”, ela envolve outros elementos da pessoa com os quais ela não se identifica também. Em outras palavras: não é porque você se identifica ou não com algo que isso não faz parte de você e da sua auto expressão.
O “eu” esta alicerçado sobre uma porção de crenças, ideias, preconceitos e sobre a maneira pela qual a pessoa se percebe. É uma imagem criada e protegida pela pessoa. O “eu” não é algo fixo, mas sim um processo porque ele precisa ser afirmado todos os dias. Mas, às vezes, este continente chamado eu pode ser pequeno demais para o que a pessoa está desejando viver ou preparada para viver. A experiência que a concepção de “eu” permite pode ser inadequada para uma imensidão de outros desejos, necessidades, vontades e processos ocorrendo dentro da pessoa – ou até mesmo fora dela.
Este é um momento em que dar uma folga à “quem eu acho que sou” pode ser de uma ótima ajuda para – paradoxalmente – descobrir-se. Muitas vezes temos um problema ao qual sabemos que um amigo ou um parente resolveria rapidamente e sem dramas. Porque não nos imaginarmos como aquele amigo ou aquele parente e tentar uma solução diferente? O que podemos aprender com isso? O que posso aprender sobre mim ao não ser eu mesmo?
Atores vivenciam este processo ao interpretarem personagens completamente diferentes de quem eles são na vida cotidiana. Ao experiencia algo que não sou eu, torno esta experiência mais uma parte de mim e descubro, lá onde não sou, algo sobre a maneira de me experimentar no mundo. Existe um terapeuta americano que diz que se você fingir com muita força a coisa se torna verdade. Este espírito ajuda neste momento porque é “fingindo” ou melhor “interpretando um papel” que podemos dar asas à este voo. Às vezes o nosso eu nos salva, às vezes ele nos afunda. Saber perceber esta diferença e agir de acordo com ela é o que nos faz, também, evoluir.
Quem é você?
Abraço
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