- Tenho me sentido estranho.
-
Porque?
-
Não parece que eu tenho mais o que fazer aqui sabe?
-
Sim. Os temas que você tem trazido estão “fraquinhos” não é mesmo?
-
Sim… tenho que parar a terapia?
-
Não estou bem certo… quem sabe o problema não é o que você tem trazido, mas o que você não tem trazido?
-
Como assim?
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Emoções… relações com pais… aquela história que você começou e parou várias vezes aqui sobre suas férias na fazenda…
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Mas… sei lá… não creio que isso é importante…
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Importante em relação à que?
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Aos problemas atuais…
-
Talvez não, mas e em relação à quem você é? À tua própria história?
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Hum….
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Bem, se não são tão importantes, não tem problema falar sobre eles não é?
-
Eu não me sinto muito bem de falar sobre eles na verdade…
-
Ah… imaginei… então talvez eles sejam mais importantes do que os “problemas atuais” os quais você resolveu sem muito esforço não é?
-
Hum…. pode ser…
“A principal mentira é a que contamos à nós mesmos”. Não sei ao certo de quem é a frase, mas sei do impacto que ela causa.
Os segredos funcionam assim. São informações que são mantidas longe de nós. O principal segredo, no entanto, é aquele que nós mantemos longe de nós mesmos. Aquelas emoções que afastamos propositalmente da alma, aqueles pensamentos que preferimos deixar de lado, aquelas dúvidas que preferimos não responder – e nem sequer pensar sobre.
Quando alguém tem um segredo, em geral, existem momentos na terapia em que tudo “para”. É como se um espaço fosse aberto e não há nada para preenchê-lo. Este é o “espaço do segredo” e só ele pode preencher este vazio. Embora incômodo é função do terapeuta mostrar isso à pessoa e ajudá-la a trazer o segredo à tona. A vida de muitas pessoas começa a adquirir um sentido completamente novo quando estas informações aparecem, porque é como se elas fossem uma parte de um quebra-cabeças que, enquanto não vai para o quadro-geral, sempre o deixa faltante de algo.
Uma informação pode ser tornar um segredo por muitas razões: pode ser algo que a pessoa não entende, algo que ela teme, algo que ela não sabe como lidar, algo que tem um peso social ou familiar grande. O segredo também pode ser compartilhado e tornar-se o que chamamos de “segredo à vozes”, como no caso, comum infelizmente, de estupros ou abuso sexual em família onde todos sabem, mas ninguém fala sobre o assunto.
O segredo é algo ao qual a pessoa se adapta e passa a “viver com”. É como se fosse um buraco na sala de estar que, ao invés de ser tapado, as pessoas preferem desviar dele. É possível conviver com um segredo, mas nem sempre viver bem e, muitas vezes, ele impede o nosso crescimento. Por este motivo é que muitas pessoas sentem “vazios” em suas vidas, ou algo que estava faltando ou ainda que tem “algo que eu não sei o que é”. O segredo sempre deixa aberta uma sensação de estranheza, uma certa tensão “no ar” que é perceptível quando se convive um pouco com a pessoa ou família.
Esta tensão e a adaptação que as pessoas fazem à ela é o que torna difícil falar sobre o segredo. É preciso aprender a conter a angústia do vazio, se deparar com a energia poderosa que ele traz que pode manisfestar-se como raiva, preguiça, indignação, medo, sensação de estar sendo perseguido, culpabilizado ou encurralado, sensação de estar falando de algo “sem importância” e outras sensações que afastam a pessoa do segredo. Se você, por outro lado, suporta isso, abrirá as portas para algo “estranho” vir à tona (o segredo) que pode também vir como uma memória, uma sensação ou um sonho, por exemplo.
Dito isto será importante aprender a conviver com a informação ao invés de conviver com o esconder a informação. E aí é preciso aprender a lidar com a informação seja ela qual for. A pessoa poderá aprender que num determinado momento de sua vida esconder foi o melhor que era possível, mas que agora, distante no tempo, ela poderá dar novas respostas sobre o que lhe aconteceu.
Lidar com o segredo também envolve um tema delicado que é a redefinição de quem eu sou. Pois uma das estratégias para lidar com segredos é mudar a minha auto imagem de modo que aquilo que ocorreu comigo, nunca poderia ter ocorrido. Explico: uma pessoa que sofre um abuso pode desenvolver uma auto imagem de pessoa super independente justamente para justificar a transformação da memória de abuso num segredo. “Isso nunca ocorreria com alguém como eu”. No momento em que o segredo vem à tona, muitas vezes a pessoa tem esta auto imagem quebrada. Isso é bom porque lhe permite uma mais realista e mais adequada à sua história. Não é porque a pessoa sofreu um abuso que ela é fraca, por exemplo, justamente pelo contrário: ter sobrevivido ao abuso e estar ainda de pé mostram a sua força e não a sua fraqueza!
Que segredos você esconde… de si mesmo?
Abraço
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