- Pois é, eu pensei muito sobre o que você falou.
-
E?
-
Bem, é que é assim: eu sou desse jeito. Se eu começar a mudar isso, não serei mais eu entende?
-
Entendo.
-
Então?
-
Então o que?
-
Você está me dizendo que eu tenho que deixar de ser eu?
-
Não, você é quem está dizendo que ao mudar um comportamento irá mudar a sua personalidade.
-
É… é que eu sempre fiz as coisas assim, não é meu mudar isso.
-
Entendo.
-
Mas, então o que eu faço… eu entendi também que é importante mudar isso!
-
Me parece que talvez você esteja se colocando num dilema: o meu “eu” ou um comportamento novo?
-
Pois é!
-
Será verdadeiro este dilema?
-
Como assim?
-
Será que a sua personalidade e um comportamento são elementos do mesmo nível? Ou seja, não é possível manter quem és e adquirir um novo comportamento?
-
Não sei…
Muitas pessoas quando iniciam um processo de mudança trazem esta dúvida cruel sobre mudar e “deixar de ser quem sou”. Quanto mais rígida e apegada aos seus valores e critérios mais a pessoa sofre com isso. A identificação entre quem ela é e os comportamentos que ela tem é tão profunda que não se consegue perceber que um comportamento fora da rotina seria apenas isso e que, caso isso traga algum tipo de identificação diferente, bem, qual o problema com isso?
O medo.
Medo do que? O grande medo é de que a pessoa vá “se perder” e não conseguirá mais retornar à quem era. Esta é uma típica fantasia rígida que assume que os comportamentos representam a pessoa, como se a maneira de executá-los e a percepção interna da pessoa não tivessem valor nenhum o que é um engano. É possível para uma mesma pessoa executar o mesmo comportamento tendo duas percepções diferentes do mesmo e se percebendo de maneira diferente, mudando, assim a maneira pela qual o comportamento é executado.
Na verdade este tipo de medo é mais uma defesa contra o processo de mudança do que apenas um medo. Esta super identificação com a rotina de comportamentos mostra uma pessoa que está tão apegada ao que faz que muitas vezes nem sequer se permite refletir sobre o que faz e nem como o faz e muito menos o seu papel nisso tudo. Ocorre que a defesa, então, pode ser contra o fato de se perceber.
Ao modificar a rotina a pessoa deixa de colocar os comportamentos e começa a se colocar, foi a pergunta que deixei no diálogo acima: “eu” ou o meu comportamento? Eu só posso mudar um comportamento se eu me perceber maior do que ele, ou seja, o meu “eu” é um conjunto maior e que envolve os meus comportamentos. E é exatamente isso que algumas pessoas aprenderam ao contrário, ou seja, de que ela só será definida pelos comportamentos, no caso os comportamentos são um conjunto maior do que o “eu”. Soma-se à isso uma noção de que aqueles comportamentos são “os” certos, de maneira que se a pessoa deixar de executá-los além de se perder será “errada”.
Este tipo de educação gera uma pessoa insegura em relação aquilo que deseja, sua tendência é sempre pensar na imagem que passa e ao que os outros vão pensar se ela mudar suas atitudes. O processo de mudança, no entanto, requer em determinado momento que a pessoa passe a se perceber e se colocar. A defesa é justamente contra isso, “se perceber” é o real problema porque ele pode trazer perguntas “perigosas” tais como “e se eu não quiser mais fazer assim?”. Esta angústia é sentida inicialmente como uma obrigação “serei obrigado à mudar?” e é a típica frase de quem não entendeu que quem “manda” nos seus comportamentos é ele próprio.
Aprender a perceber que há um sujeito que executa as ações e que estas são diferentes de quem ele é é um dos primeiros passos para a pessoa lembrar que existe um eu que decide e que reflete sobre o que faz. Isso ajudará a pessoa a sentir-se mais tranquila em relação à refletir e tomar novas decisões e, aí sim, poder mudar.
Abraço
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