• 10 de dezembro de 2014

    O olhar que me olha

    miron

    – Eu cansei sabe?

    – Sim, entendo você.

    – Porque ela não para de me encher e entende logo quem eu sou?

    – Não sei. Porque te irrita isso?

    – Porque ela não me vê como eu sou.

    – E porque você continua se posicionando da mesma forma? Não me parece adequada à este “novo eu”, mais maduro, segundo você.

    – Não sei… é que me irrita… ela não me percebe.

    – Sim, mas é você quem tem que se perceber e reagir de acordo.

    – Mas…

    – Em outras palavras, se você é quem diz ser, porque briga com ela sobre isso?

    – Hum…

     

    Auto imagem é uma palavra interessante de ser estudada. Além de palavra, ela representa um fenômeno que é a maneira pela qual a pessoa se percebe. Ocorre que a auto imagem nem sempre é aquilo que queremos que seja, em outras palavras: às vezes temos o desejo de nos ver de uma forma, mas na realidade nos vemos de outra.

    As pessoas falam muito sobre como o outro nos vê quando falam de auto imagem, quando na verdade o problema é como eu me percebo e como ajo frente à isso. Se me percebo de uma determinada maneira e essa imagem está integrada posso relaxar nela e agir a partir dela, senão eu preciso de aprovação dos outros ou de prová-la à alguém. Aí moram os perigos.

    Quando preciso da aprovação de uma outra pessoa imediatamente me coloco numa situação de menos valia porque é a pessoa quem dá a decisão final sobre quem eu sou. Muitas vezes fazemos isso bolando maneiras pelas quais gostaríamos que o outro respondesse à quem somos, mas esta resposta não vem e, então achamos que a pessoa não nos aprova. Os enganos podem ser vários: a pessoa pode não ter uma maneira igual à sua de demonstrar, a pessoa pode não desejar ver você da maneira pela qual você se vê ou até mesmo ela pode não ligar muito para esta percepção e nem sequer atentar ao detalhe.

    Provar significa que preciso vencer algum teste afim de receber o aval de que sou digno de me perceber segundo um determinado status. Se preciso provar à alguém é porque eu mesmo não me basto como referência minha. Novamente a situação perigosa de estar na mão do outro para receber o seu status pessoal. Pode ser que o outro não entenda que você está  num teste, e não ache que tenha que lhe dar alguma nota ou certificado.

    Os outros podem negar, concordar ou ignorar a nossa definição de eu. Quem deseja tornar-se “alguém” deve saber lidar com esta realidade. É como adquirir uma competência: você precisa saber qual e como saber se dizer que a conseguiu. Senão dependerá de um terceiro, a competência, neste caso, é a capacidade de se perceber segundo um determinado status e segundo um critério. Quando a pessoa consegue assumir isso ela pode mudar a maneira de se comportar frente aos outros porque não necessitará mais do aval deles.

    Você sabe quais são os critérios pelos quais você determina quem é? Você consegue sustentar esta imagem de si em suas relações ou cede à pressão dos relacionamentos? Você se sente da maneira pela qual se percebe ou esse conceito é apenas uma ideia na sua mente?

    Estas perguntas vão te ajudar a começar a fazer as perguntas para organizar a sua auto percepção.

    Abraço

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