- Sabe Akim, eu já estou pensando que… sei lá… você já sabe o que eu tenho ou ainda não?
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Como assim?
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Já faz algumas sessões que tenho vindo e você ainda não disse o que eu tenho.
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Ah… verdade…
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Então?
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Me diga uma coisa: você já percebeu que o seu medo tem ver com situações de exposição não?
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Sim, pelo trabalho que você me deu na primeira semana.
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Ok, também já percebeu que quando você se foca no que vai falar a sua ansiedade diminui não?
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Sim, também.
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E que quando isso ocorre fora do contexto de exposição social é quando você tem que falar de algo que quer, não é mesmo?
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Sim.
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E já tem trabalhado com isso, como naquela vez em que sentiu-se ansioso e depois ficou mais tranquilo ao pensar no que realmente queria, certo?
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Sim também…
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Não sei exatamente “o que você tem”, mas sei que já está dando conta disso, não está?
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… é…
Uma outra pergunta comum em terapia é “o que eu tenho?”. Esta é uma das minhas favoritas de trabalhar porque ela parte de uma maneira de compreendermos as doenças e a doença mental que se baseia na ideia de diagnóstico. Nesta ideia a pessoa vai ao especialista o qual faz uma avaliação, dá à esta avaliação um nome (o diagnóstico) e a pessoa sai com este nome para a sua vida com algo como: “eu tenho depressão”, “eu tenho transtorno bipolar”.
A questão é que o diagnóstico assumiu um papel social ao longo dos anos que não lhe cabe: o de rotular a pessoa. Diagnosticar é descrever um processo e não atribuir nome à uma “coisa”. Explico: quando se descreve um processo o profissional está atento à um conjunto de elementos e à maneira pela qual estes elementos se relacionam, após fazer isso dá um nome que “resume” o processo. O foco, neste caso não é o nome, mas sim o processo e é nele que o profissional irá interferir. Atribuir nome à uma “coisa” significa nomear algo como se este “algo” fosse uma “substância” ou uma “entidade”.
A diferença, na prática consiste no seguinte: ao descrever um processo, meu foco é em trabalhar com este processo e aprender como interferir nele. Se atribuo nomes à “algo” trato este algo como uma coisa que está dentro da pessoa. Ninguém tem uma “entidade” chamada depressão dentro de si que faz com que a pessoa tenha determinados sintomas. A depressão não é uma espécie de fantasma que se apossa da pessoa, mas antes, um conjunto de elementos desde os biológicos até os comportamentais e sociais que relacionados de determinada maneira recebem o nome de depressão.
Assim quando a pessoa deseja saber “o que ela tem” está em busca do “fantasma na máquina” e não em busca da compreensão do processo. Saber o nome de algo é tão útil quanto não sabê-lo, porém aprender a descrever e relacionar sintomas e elementos ajuda a pessoa a perceber-se em sua vida e a estruturar intervenções naquilo que faz, sente e pensa. Mais vale a pena ajudar a pessoa compreender os processos pelos quais ela está passando do que dar nomes. Esta metodologia é, muitas vezes, mais complexa e mais trabalhosa, porém a percepção que a pessoa desenvolve de si é algo que levará para toda a vida.
Vale a ressalva de que este post não é uma ode contra o diagnóstico, mas sim, uma tentativa de mostrar o seu real valor – na minha visão – para que o que se percebe e descreve não seja confundido com o que a pessoa “é”, ou seja, é diferente dizer que a pessoa se comporta de determinada maneira e que ela “é” determinada “coisa” ou que tem a “coisa” dentro dela. Fazendo uma comparação com a medicina, ninguém tem “gripe”, o que temos é a relação do nosso corpo com um vírus que causa determinados sintomas, chamamos esta relação de gripe, porém se não sabemos descrevê-la não conseguimos tratá-la.
Abraço
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