- Você está me dizendo que eu devo simplesmente aceitar que acabou?
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Não que você “deve”, porque isso é escolha sua, mas sim que seria mais saudável para você.
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E porque você acha isso?
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Porque é a verdade. Terminou.
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(Silêncio)
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Posso entender que seja duro, ruim, dolorido, que te dê raiva e vontade de matar alguém… mas é a verdade.
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Eu não gosto disso!
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Eu compreendo e também aceito isso, é realmente uma droga.
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Então?
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Mas…
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É a verdade?
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Sim.
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É uma droga mesmo! Eu não quero saber de aceitar isso ainda.
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Ótimo… esse “ainda” já está muito bom. Já deixa você aberta para poder fazer isso em algum momento.
No último post falei sobre o Natal e alguns dos problemas que as pessoas enfrentam nesta época do ano. Neste post trago uma reflexão sobre o tema das perdas que eu considero ser complexo nesta época.
O Natal tem a ver com o início de um novo ciclo. Para os cristãos o nascimento de Jesus Cristo, para outras culturas esta mesma época está associada com novos ciclos do sol e oque significa que a vida tem que mudar novamente. Sempre que falamos em ciclos, falamos em movimento. Todo movimento envolve mudanças, toda mudança envolve algo que é perdido, algo que deixa de existir e isso envolve aprendermos a criar novas relações com o que foi e com o que está vindo. E esta é a reflexão de hoje.
Aparentemente o grande problema de todos nós com as perdas é o de criar uma nova relação com o que foi perdido. Se perdemos uma pessoa, uma época de nossa vida (faculdade, adolescência) ou alguma coisa a regra é a mesma: a maneira pela qual vamos nos relacionar com o que foi perdido é fundamental para assegurar um bom desvinculamento ou um grande problema.
Mas como se faz isso?
Socialmente está em vago a ideia do desapego, mas o que é, exatamente o desapego? Desapegar-se não tem a ver com não dar importância às coisas com as quais estamos vinculados, mas sim e saber, justamente, “surfar” na maneira de se relacionar com as coisas. Tudo em nossa vida tem a capacidade de ser transitório: pessoas, situações e lugares. De maneira mais concreta: as pessoas com quem nos relacionamos, o dinheiro que temos, os lugares que frequentamos, este momento de vida podem se acabar – e, em geral, vão -, por esta razão não adianta tê-los como algo permanente e sob o nosso controle, porque não está. Pessoas podem ir embora, morrer ou não desejarem mais se relacionar conosco. Dinheiro acaba, recessões podem começar, os lugares que gostamos podem fechar e o momento que vivemos hoje não será para sempre.
Quando nos relacionamos com estas coisas como fixas, dizemos à nós mesmos a pior mentira: nada irá mudar. Essa crença torna a perde extremamente dolorosa e difícil. Se “nada vai mudar”, “porque mudou”? Esta é a dor de quem perde algo. Se a crença é de que as coisas vão mudar pode-se assumir duas posturas: o niilismo “não adianta gostar de nada porque tudo vai embora mesmo” (que particularmente entendo como algo infantil, pois é uma negação à vida) e uma que gosto de chamar “é um bom dia para morrer” a qual assume a perda e vive o que há de bom nela mesmo assim, algo como o jogo de futebol só tem 90 minutos, sabemos que ele vai terminar, mas isso não nos impede de vê-lo.
Esta segunda entendo como mais madura e corajosa. Trata-se de afirmar o trágico da vida com postura adulta. Assumir que tudo o que ocorre no nosso mundo é transitório e que, por esta mesma razão, podemos usufruir de tudo com comprometimento e força, com a moralidade fortalecida para quando acabar que possamos, com a mesma graça e serenidade, nos despedir. Isso é desapego. É a competência para saber dizer adeus quando as coisas terminam, sentindo toda a dor e tristeza necessárias pela perda, fazer o luto e buscar novos desafios na vida, novos lugares, pessoas e situações para investir nossa energia. Não tem nada a ver com ser indiferente, pelo contrário. É como ir num encontro com os amigos num bar, beber, comer, conversar, rir, viver o momento e saber que quando ele acabar, acabou.
Espero que isso possa ajudar você a refletir de uma nova maneira sobre as perdas que sofreu ou está sofrendo – no caso de você estar passando por isso. Dar uma nova versão para nós mesmos daquilo que vivemos é o início de mudanças profundas.
Abraço
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