• 2 de janeiro de 2015

    Processos

    Dia_da_Psicologia

    • Eu estou muito confuso sabe?

    • Fale mais, confuso sobre o que?

    • Eu não sei mais como pensar as coisas que eu faço entende?

    • Algo como se a sua forma habitual de pensar não fosse mais aceitável, mas ainda não tem uma outra?

    • Sim… isso e tem também como se eu fizesse uma coisa ou outra, mas ainda não soubesse direito porque.

    • E às vezes se sente mal e às vezes bem com isso, daí a confusão?

    • Sim… algo assim.

    • Muito bem, você sabe perceber o que te faz sentir bem e mal com o que você faz?

    • Mais ou menos… tem algo a ver assim com fazer o que eu quero.

    • Hum, como isso organiza a sensação de estar bem ou mal?

    • É como se quando eu faço o que eu quero me sinto bem e quando não faço fico meio mal.

    • Mas?

    • Mas quando me sinto bem ao mesmo tempo fico meio que culpado sabe? Como se não pudesse fazer o que eu quero.

    • Ah… muito bem. O que ainda não está devidamente organizado em você então?

    • Permissão?

    • Pode ser… vamos trabalhar com isso…

     

    Se a nossa mente fosse um lugar, seria um lugar fantástico, no sentido da palavra fantasia. Nada é definitivo, presente, passado e futuro coexistem simultaneamente, vários papéis competindo entre si o tempo todo por atenção, instintos, desejos, freios morais e demais energias e entidades coexistindo ao mesmo tempo. Num cenário que mais lembra a ambientação de um livro de fantasia medieval seria ingenuidade achar que mudanças se estabelecem e estabilizam rapidamente. Mas, porque?

    Todo este cenário não está ali por acaso. Foi construído com cada pensamentos, emoção, sentimento que a pessoa viveu, por cada situação passada e presente e futura, afinal, muitas vezes nos relacionamos com aquilo que ainda não ocorreu. Toda a trama está ligada de alguma forma – benéfica ao sujeito ou não – assim sendo, quando se mexe em uma parte do “mapa” se mexe em todo ele. Assim quando uma mudança começa não é apenas num ponto que estamos mexendo, mas sim em toda a trama.

    Obviamente, por vezes existem mudanças que são mais “simples” do que outras, ou seja, mudanças que são “aceitas” pela trama, mudanças que complementam a trama, que mexem com poucos elementos desta trama ou ainda que mexem com elementos que são fracos demais dentro da trama ou muito flexíveis e de fácil adaptação. Estas mudanças que estou chamando deliberadamente de “simples” na verdade são aquelas que afetam pouco a estrutura da trama e, por este motivo, se concretizam mais facilmente.

    Outras mudanças são mais complexas e envolvem mais elementos da trama ou ainda, desejam alterar a própria trama mudando o seu foco, a sua percepção e com isso, a sua realidade. Estas mudanças trabalham, em geral, com a estrutura da trama e não com a trama em si. Por este motivo as pessoas em terapia ficam confusas, ou seja, é quando uma parte da trama está sendo alterada, porém a alteração ainda não se completou ou ainda não foi completamente integrada à trama.

    Para usar a metáfora da “trama” pense em um seriado de intrigas governamentais. Elementos como mentiras, histórias de amor proibidas, traição, manipulação são partes tradicionais desse tipo de trama, logo são simples de serem inseridos. Assassinatos, sodomia, guerras também são elementos possíveis, porém já são mais complexos de serem inseridos porque mexem com partes fundamentais da trama. Por exemplo: uma guerra pode ameaçar a corte dentro da qual a trama se passa, se o rei cair ou o país for conquistado, como a trama irá continuar? Já elementos como uma busca genuína pela paz espiritual, desejo de ter filhos e se afastar de intrigas, repensar qual a importância do poder embora possam ser integrados mudam e muito a trama à ponto de que a história não fizesse mais sentido, sendo este o caso, para onde ir? Que comportamentos levar? Para que?

    Este é o momento da dúvida e da confusão dentro de uma terapia. Cada um de nós carrega dentro de si um script, uma “trama” pessoal na qual conhecemos o nosso papel e o dos outros. Quando começamos a nos fazer perguntas e desejar mudar alguns destes elementos como exemplificado acima, podemos mudar desde elementos pouco significativos até elementos que modificam toda a estrutura de uma história, no caso, a nossa, assim como o nosso papel na nossa história interna, à saber: nossa vida.

    Assim, é comum que ela demore um pouco para se assentar, que você tenha inúmeras dúvidas em relação à ela, que se sinta hora confortável, hora querendo correr dela, que muitas situações sejam fáceis de lidar e outras sejam um horror. Todas as reações são importantes de serem relatadas porque elas são as partes da sua trama interna falando, brigando por sua existência e cabe à você, o autor saber lidar com cada uma delas. Como? Aprendendo com cada uma.

    Quero fechar este artigo com uma frase que me acompanha sempre que tenho muitas dúvidas sobre o meu próprio caminho que é um treco da música “Infinita Highway” do Engenheiros do Hawaii: “a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza”.

    Abraço

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