• 16 de janeiro de 2015

    As faces do poder

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    • Não aguento mais a minha namorada me mandando fazer as coisas.

    • Pois é… porque você não para de fazer ou faz o que realmente quer?

    • Ah… sei lá… fico com medo da reação dela.

    • Então você corrobora para isso.

    • Como?

    • Alimentando nela a ilusão de que ela realmente manda em ti oras!

    • Hum…

    • E você também faz algo com ela, não faz?

    • O que?

    • O que ocorre quando você fica emburrado?

    • Ela fica correndo atrás de mim.

    • Pois é… seria esse o seu jeito de mostrar a sua força para ela? Mostrando o quanto você pode estar distante?

    • Verdade… que nem meu pai fazia…

    • Sim… que tal achar uma comunicação mais saudável para vocês?

     

    Quando vemos um casal com um marido muito autoritário e uma esposa submissa aturando as provocações e falta de limite do marido, é muito comum ficarmos do lado da mulher em contrapartida do marido. O mesmo ocorre na situação inversa, ao vermos um homem sendo mandado por uma esposa temperamental tendemos a ficar do lado do homem.

    Porém os jogos de poder dentro de uma relação são mais complexos do que simplesmente “um manda e o outro obedece”. Vários componentes emocionais e relacionais se misturam no momento em que duas pessoas se escolhem e mantém a sua escolha. Mesmo quando existe violência “gratuita” isso se aplica, dificilmente você verá uma pessoa com boa auto estima, sabedora de seu valor no mundo permitindo-se ser violentada (o) por um parceiro (a) mal resolvido e infantil.

    A imagem acima mostra bem o ponto. Numa relação o jogo de poder se dá dos dois lados, uma pessoa fraca domina pela fraqueza a pessoa forte o forte, domina pela força. A ideia de se pensar é que a relação se mantém – de alguma forma – e o jogo que existe para manter essa relação é o que deve-se focar e não apenas as partes.

    Ao fazer isso começa-se a perceber, por exemplo, que a pessoa submissa (homem ou mulher) tem, por outro lado, uma maneira muito peculiar de falar sobre os defeitos do conjugue, ou de deixar a pessoa “forte” insegura em relação à sua potência ou ainda de mostrar que ela, sendo fraca e submissa não pode ser deixada, que isso seria um crime. A maneira do fraco se defender é sendo fraco e essa estratégia, em geral, manipula sentimentos e culpa de uma maneira moral mais ou menos velada.

    A manipulação pode, por exemplo, se dar através dos filhos. Não é a toa que em muitos casamentos os filhos falam pelos pais, são colocados no meio de guerras silenciosas nas quais eles assumem o papel de vingador, defensor ou mediador dos pais em conflitos dos quais eles nunca deveriam ter tomado sequer conhecimento, quem dirá participação. Assim o fraco constitui o seu poder pessoal, o martírio em nossa sociedade é algo com um poder muito grande e quando se é fraco, buscar este lado é algo relativamente fácil.

    Os fortes, por sua vez dominam pelo poder, pela capacidade de fazer algo. São as ameaças mais duras e brutais que fazem com que o outro se mantenha submisso. O poderoso pode gerar a dor através da sua ação e isso o faz ser temido e respeitado. Ele é o que pode cortar os recursos da família, pode sair de casa sem mais problemas, pode, pode e pode. Porque não o faz? Porque manter o poder neste caso é manter a ilusão da ameaça.

    No caso de pessoas que são violentas fisicamente o mesmo se aplica. Em geral aquele que bate e agride deixa a mensagem que da próxima vez pode ser pior. A ilusão de que ele pode causar dores ainda maiores e problemas ainda mais penosos para a a pessoa. Muitas vezes isso ocorre de fato e a pessoa leva à cabo a sua demonstração de poder. Geralmente, quando isso ocorre é porque ela está com menos poder – paradoxalmente. Porque? Porque para levar isso à cabo a pessoa está precisando demonstrar o seu poder, exibi-lo e isso significa que a ameaça estava já desacreditada.

    Em ambos os casos, pode-se perceber que a ameaça do uso do poder é o que conta, ou seja, em jogos de poder ambos os lados se medem, se ameaçam e mostram em pequenas doses aquilo que podem fazer ou que podem deixar de fazer “caso…”. “Caso…” o outro abandone o jogo e a relação. Em outras palavras: se você parar de ser do jeito que é e sair desse jogo eu vou fazer algo com você… mesmo que o jogo seja o jogo de sofrimento.

    Costumo perguntar aos casais: “o que vocês fariam se não estivessem brigando?”, é incrível como eles simplesmente não sabem como responder à esta pergunta. Porque? Porque o modelo de relacionamento deles é através de brigas, ou seja, se saírem deste jogo, não sabem o que fazer, ao mesmo tempo está horrível ficar no jogo, porém entre o certo doloroso e a dúvida, fica-se na dor.

    Espero que o leitor possa, agora, olhar as relações de uma outra maneira, bem como seus jogos de poder.

    Abraço

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