• 19 de janeiro de 2015

    Devir

    davinci1

    • Akim eu estou meio esquisito hoje, na verdade nos últimos dias.

    • O que acontece?

    • Eu tive uma briga no meu trabalho e depois da briga no meu escritório eu entendi que eu tinha errado e errado feio.

    • Hum. Coisa boa isso, o que fez com isso?

    • Pedi desculpas e tudo mais. Mas o mais importante não foi isso.

    • O que foi então?

    • É que, depois, sozinho no escritório que eu percebi que eu erro mesmo sabe?

    • Você quer dizer que descobriu que você também comete erros é isso?

    • Sim! Parece meio bobo até… mas é isso.

    • Hum… coisa muito boa… se você não sabia disso antes, que bom que está sabendo agora!

    • Pois é… é estranho porque é frustrante e libertador ao mesmo tempo entende?

    • Claro, poder ser quem somos é assim mesmo.

     

    A palavra “devir” significa “transformar-se, vir-a-ser, tornar-se”. É uma palavra complicada de ser entendida porque você só pode entendê-la onde ela não é acessível á ser entendida. Geralmente quando se fala em mudança pensamos no ponto final dela, mas quando falamos em “devir” estamos falando no processo e se você pega um ponto qualquer do processo ele já não mais é um processo, torna-se um fato pronto.

    A ser humano é um ser em processo, um ser em devir. Por esta razão é até mesmo paradoxal dizer que ele é um “ser”, o que significa uma entidade pronta, determinada. Somos indeterminados a cada momento nosso processo está em um ponto diferente, é só perceber a quantidade de sensações diferentes que temos ao longo do dia assim como a de pensamentos.

    Porém, entrar em contato com isso é algo muito angustiante. Não temos controle sobre o processo, temos consciência dele e podemos inferir sobre ele, buscar rumos brincando com ele, porém determinar o que irá ocorrer com este processo amanhã ou depois é algo impossível. Até porque este devir não ocorre isolado do universo, ele faz parte e recebe influências constantes do devir do restante do mundo.

    Frente à esta angústia muitas pessoas se fecham ou se robotizam para lidar com o que podemos chamar de “humanidade” – ou seja – capacidade de sentir-se humano. Nossa sociedade de consumo colabora para essa robotização quando nos cobra padrões estáticos de beleza, saúde, riqueza e consumo. Padronização não é algo para o humano. Muito embora sejamos padronizáveis. Paradoxal? Sim e devo salientar: isso é humano.

    Assim “ser” humano é, na verdade, um processo de tornar-se humano, de experimentar-se humano. E esse processo muda a cada dia, a cada novo desafio. Aprender a errar, aprender a ser imperfeito, aprender a viver requer estar incompleto e – nisso – completo. A completude só é adquirida quando se percebe incompleto – por mais estranho que isso possa parecer. Este paradoxo é aquilo no qual nossa vida se desenvolve.

    Existir é complexo e paradoxal porque aquilo que hoje é amanhã pode não mais ser. Aprender a mergulhar no paradoxo identificando-se com ele é o que nos faz mais humanos porque somos assim também. As mitologias antigas ilustravam o mundo interior do ser humano com seus vários deuses, nada era deixado de fora: raiva, fúria, amor, serenidade, inteligência. Todas as virtudes eram estampadas, assim, desde o erro até o acerto faziam parte da experiência humana.

    Muitas vezes o grande problema das pessoas é que estão vivendo experiências pequenas demais para si.

    Como você está vivendo a sua experiência humana?

    Abraço

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