• 16 de março de 2015

    O que fizeram de mim?

    imagens arlkamfksa

    • E eu tenho uma…não é direito raiva sabe? É como uma revolta.

    • Sente-se indignado em relação à sua família?

    • Não à pessoa deles, mas ao que vivi com eles.

    • Pensa que poderia ter sido diferente não é?

    • Sim… em tudo o que eu não precisava ter vivido.

    • Um sentimento esperado.

    • Esperado?

    • Sim, é comum olharmos para trás e querer não ter vivido as partes ruins de nossa vida.

    • É… mas sei lá… isso me faz mal entende?

    • Claro e você, o que entende disso?

    • Bem… não sei direito… eu sinto revolta e indignação, mas sinto que o mais adequado não é brigar com eles.

    • Então, o que seria melhor?

    • Como na música dos engenheiros: “perdoe o que puder ser perdoado, esquece o que não tiver perdão”.

    • Entendo. Isso é maduro, todos erram e você irá errar com seus filhos, esteja certo. Perdoar é, também, seguir a sua vida em frente.

    • Sim

     

    A vida não é justa. A vida é cruel. A vida é a vida.

    Sempre cito o pensamento existencialista de “o que vou fazer com o que fizeram comigo?”. Este pensamento é uma espécie de crença que ajuda a olharmos para frente, aceitando o passado e buscando nos (re) criar com ele.

    Porém, nem sempre é fácil olhar para o passado de uma maneira que nos permita usá-lo à nosso favor. Muitas vezes as pessoas vivem o que se passou à 20 ou 30 anos atrás como algo ainda presente. Esta maneira de encarar o passado traz duas consequências nefastas ao desenvolvimento do “eu”: a primeira que faz com que a pessoa mantenha o foco no passado e olhando apenas para trás não é possível ir para frente. A segunda se refere ao fato de que olhar para o passado como se estivesse ainda acontecendo faz com que você se mantenha identificado com quem foi e não com quem é, muito menos com que poderá vir à ser.

    É muito comum, por exemplo, que pessoas que foram obesas na infância e adolescência ainda se vejam como obesas mesmo estando no peso ideal. Também é comum que pessoas que viveram privações de comida, por exemplo, façam grandes estoques de comida mesmo tendo disponibilidade. Enfim, tudo aquilo que vivemos torna-se um aprendizado. O que foi aprendido e a identidade que criamos para ter este aprendizado é que pode ser a nossa real prisão.

    A questão é que aquilo que aprendemos precisa ser mantido para continuar gerando o seu efeito. Quando as pessoas fazem terapia elas tem acesso à novos aprendizados , vivem novas experiências e, com isso, podem decidir se vão manter seus novos aprendizados ou os antigos. Quando algumas pessoas mudam, sentem-se rancorosas em relação ao passado e é importante modificar isso para que ela possa seguir livre com suas novas escolhas.

    Isso se dá porque muitas vezes o novo aprendizado pode ser uma espécie de “birra” contra o que se viveu. Por um lado a pessoa muda, por outro, precisa manter o passado vivo em sua memória e lutar contra ele. A motivação da mudança é a luta o que mantém a pessoa num constante estado de tensão e isso à longo prazo não é saudável.

    Assim, perdoar o que se passou compreendendo que o passado faz parte de nossas vidas e que, por pior que tenha sido é o que nos fez nós. Aprender a se amar envolve aprender a aceitar o que nos aconteceu – aceitar é diferente de gostar e de achar correto, diga-se de passagem. Manter o passado em perspectiva é aquilo que pode nos ajudar a nos diferenciar de quem fomos e compreender quem somos e o que estamos nos tornando. Este é o processo evolutivo do self.

    Quando você irá deixar o seu passado no passado?

    Abraço

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