• 27 de março de 2015

    Aceitação e admiração

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    • Estou com medo.

    • Medo de que?

    • Ah, de que ele vai me deixar sabe?

    • E porque isso iria acontecer?

    • Ah… sei lá…

    • “Sei lá”?

    • É que tipo… não tenho mais conseguido dar para ele a atenção que eu dava sabe?

    • Sei

    • E daí… tipo… isso era o meu diferencial sabe?

    • Ah sim… tipo margarina com alto teor de atenção?

    • Ai Akim…

    • Você está se colocando dessa forma… me diga: o que ele está achando da sua “falta de atenção”?

    • Não sei…

    • Não perguntou e nem sequer conversou com ele sobre isso né?

    • Não…

    • Então você bem sabe: são tuas fantasias dizendo que você vai perdê-lo… que tal confrontar isso e ver o que ele realmente pensa?

    • Ai… é difícil… mas eu sei que eu tenho que fazer mesmo…

     

    Muitas pessoas dizem que desejam ser aceitas por seus grupos, parceiros ou família. Existe, contudo, uma diferença entre aceitação e admiração, assim como aos valores que atribuímos à essas duas características.

    Aceitar tem a ver com dar o valor de existências. Em outras palavras quando se aceita algo ou alguém dá-se à pessoa ou a característica a noção de que ela existe. É comum dizer: “eu aceito o seu jeito de ser”, queremos dizer, com isso, que sabemos da existência de um determinado jeito de agir. Aceitar não implica gostar ou desejar, também não implica em concordância com aquilo que se aceita. É possível dizer que aceitamos determinada característica e não concordamos com ela, algo que dizemos, por exemplo, assim: “eu sei que você gosta de música alta (aceitação), mas eu não consigo estudar com música alta”.

    A aceitação é, também, a base da auto estima. Aceitar as características que percebemos em nós mesmos é o que nos fornece a matéria-prima para formarmos nosso caráter e as nossa maneira de reagir ao mundo. Não aceitar significa negar a existência. Quando percebemos algo em nós e dizemos “não”, negamos a existência de algo que está ali. A característica não desaparece por isso, mas mantém-se afastada da nossa consciência de maneira que nada podemos fazer com ela a não sermos “vítimas” de sua influência.

    Admirar tem uma outra conotação. A admiração pressupõe a aceitação, ou seja perceber que uma determinada característica existe, e empresta àquilo que se percebe um valor. A admiração não é pessoal, ela se restringe à características da pessoa. Por incrível que pareça não admiramos “alguém”, mas sim as competências que percebemos nesse alguém. Mesmo quando dizemos “admiro você enquanto pessoa” é porque admiramos a maneira pela qual determinada pessoa age no campo pessoal.

    A admiração não implica em gostar da pessoa que admiramos, ela também não implica um valor moral. Aquilo que se admira não é “bom” ou “mal”, é apenas admirável. Assim é possível admirarmos uma competência de um inimigo. Também não implica em concordância com a competência, é possível admirar a competência de uma pessoa com artes marciais e ser contra a violência, por exemplo. A admiração, no entanto, traz consigo um lugar de destaque à pessoa que detém a competência, ela se torna uma referência para aquilo.

    Neste sentido é que admirar se diferencia novamente de aceitar. Aceitação não implica em valorização, admiração sim. O que ocorre com muitas pessoas é uma confusão entre a valorização adquirida através de uma determinada competência em um grupo e o desejo de ser amado e aceito. O raciocínio é  de que ao ser admirado – pela sua competência – a pessoa será amada – pelo que é, pelo seu “ser”. Este raciocínio é enganoso justamente pelo fato de que a admiração não visa o “eu”, mas sim o comportamento e a competência da pessoa.

    É óbvio afirmar que é possível que ambos ocorram, ou seja, é possível amar e admirar a mesma pessoa. Porém o problema é quando se imagina que a admiração é necessária para se conseguir um lugar na relação. Torna-se um problema porque como a admiração possui um valor a pessoa passa a brigar e pode sentir-se insegura em relação à sua competência o que compromete a sua segurança na relação.

    Se acredito que sou amado e tenho o meu lugar pelo meu intelecto, por exemplo, posso sentir qualquer pessoa que detenha um conhecimento que eu não tenho como um rival. Também posso sentir-me usado pelo fato de entender que a pessoa “só me ama pelo que sei”. Esta confusão se dá por confundir admiração e aceitação. Confundir uma competência da sua pessoa com a sua pessoa.

    Você é mais do que apenas o que sabe fazer.

    Abraço

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