- Eu não sei o que dizer direito hoje…
-
Eu imagino que você saiba…
-
Não sei!
-
Ok… como se sente?
-
Estou meio ansioso.
-
Com o que?
-
Com aqui, hoje…
– Seria possível que você soubesse o que causa esta ansiedade?
- Sim…
-
O que poderia estar causando ela?
-
Eu não quero falar…
-
Ok… pense apenas nisso: não estou aqui para julgar isso aí.
-
Entendo… eu queria fazer perguntas para você sobre a última sessão…
-
É isso que está deixando você ansioso?
-
Sim… eu não posso perguntar sabe? Não é de bom tom ficar te questionando do teu trabalho
-
Sinta-se à vontade… afinal de contas o “meu trabalho” aqui é com a tua vida e eu acho que você tem todo o direito de questionar este trabalho!
O desejo é um grande tabu em nossa sociedade. Embora de um lado exista uma propaganda que afirme que devemos buscar nossos sonhos e desejos, os mesmo apenas são aceitos se estiverem dentro do discurso social. Assim sendo a experiência e o desejo individuais nem sempre são bem vindos e em outras vezes são temidos o que causa problemas no desenvolvimento humano.
Desejar não implica em realizar. Não realizar, no entanto, não implica em não aceitar aquilo que se deseja e nem mesmo as motivações que nos levam ao desejo. Em outras palavras: é importante aceitar aquilo que desejamos para nos conhecer melhor e isso não significa que precisamos levar à cabo aquilo que é desejado da maneira pela qual o desejo vem em um primeiro momento. Aceitar, vale lembrar, implica em dar valor de existência à algo.
O problema é que nem sempre nos permitimos aceitar aquilo que desejamos. Nossas crenças, valores e a criação nos colocam em contextos nos quais determinados tipos de desejos e objetos de desejo tornam-se perigosos, mal vistos ou até mesmo nocivos. Quando aprende-se que determinado tipo de desejo é “errado” passa-se à lidar com o desejo de maneiras que visem a sua contenção e isso traz problemas não pelo fato do desejo não se realizar – pois já afirmei que não é necessário que isso ocorra – mas sim pelo fato de vários motivadores psíquicos internos não serem levados em conta e não serem aceitos pela pessoa.
Isso faz com que a possibilidade de auto conhecimento diminua e também com que a pessoa aprenda a temer aquilo que deseja. É quase inevitável imaginar que se estou desejando algo que não é para ser desejado eu devo ser errado de alguma maneira. A culpa e a tensão que se carrega fazem com que a mente comece a organizar sentimentos de confusão para conseguir manter o bloqueio ativo. É como se você jogasse uma bomba de fumaça dentro da sua própria psique com a intenção de tornar nebulosos alguns desejos e motivações… o problema é que você, como um todo fica confuso e envolto na névoa também.
Assim a confusão, neste contexto, é, na verdade, um mecanismo empregado pela nossa mente afim de nos proteger do nosso próprio desejo e da possível condenação moral que ele traz consigo no sentido de nos acharmos pessoas ruins por termos este desejo. Este mecanismo age nos impedindo de desejar, ou tornando o desejar vinculado ao desejo aceito pelo social ou pelas pessoas que nos são importantes. Obviamente isto faz com que a pessoa, por si, torne-se secundária frente aquilo que ela mesmo deseja.
Ter a coragem de aceitar aquilo que se deseja – seja o que for e do jeito que for – é começar a retirar esta cortina de fumaça e tornar-se dono do seu próprio desejar. Não apenas dos objetos – quando se diz “objeto” refiro-me à qualquer coisa que possa ser desejada, desde uma pessoa até uma viagem ou um emprego – que desejamos, mas também do ato de desejar. Aceitar implicará em perceber os motivos que organizam o desejo e, de posse disso a pessoa aprende mais sobre ela, sobre seu momento de crescimento interior, sobre aquilo que ela própria valoriza e pode, então decidir como lidar com aquilo que deseja.
E você, que desejos guarda à sete chaves dentro de sua mente?
Abraço
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