- Ah Akim… eu não sei direito…
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É difícil este tema pra ti né? Está sentindo isso como uma perda?
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Sim! Eu perdi ela mesmo… não percebi o que estava acontecendo… mas sei lá… deixa assim… uma hora passa.
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Sei… é um jeito de encarar.
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O tempo sabe? Acredito muito nisso.
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No que?
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Que o tempo ajuda a curar as coisas.
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Sim, ou a gangrenar também… afinal você ficou um bom tempo sem perceber o que aconteceu na sua relação e ela terminou.
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Pô… precisa falar assim?
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Para te colocar em contato com o real? Sim! Não gosto, mas preciso…
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Tá… é foda, mas você tá certo… é que eu não gosto disso…
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Eu sei, eu sei….
O tempo cura. Ouvi esta frase inúmeras vezes na clínica ao longo dos anos. Conclusões? Sim, algumas que compartilho com o leitor aqui.
O tempo cura? Não!
O que o tempo faz? Várias coisas e elas podem ajudar você a se curar ou a se enterrar ainda mais profundamente. Em primeiro lugar precisamos entender o que se quer dizer com “o tempo cura”: não é o “tempo” em si, porque o “tempo” não é uma entidade metafísica que se materializa e bate na sua cabeça te curando de alguma coisa. Assim o que se quer dizer com esta frase é que a passagem do tempo cura, ou seja, o passar dos dias, meses e anos tem um efeito curativo e/ou terapêutico. Se isso fosse verdade não existiriam traumas! O que acontece na infância ou na adolescência seria “curado” e todos viveriam felizes depois de um mês ou dois. Obviamente a vida não é assim.
O passar do tempo é algo que proporciona alguns elementos: perspectiva e tempo de habituação. A passagem do tempo faz com que consigamos ver um determinado acontecimento em perspectiva temporal distinta. Olhar para uma briga que tivemos ontem no dia de hoje é diferente de olhar a mesma briga daqui a um ano. Os elementos que realmente ficam em evidência são distintos e muitas vezes aprendemos algo ao longo do caminho que classifica a briga como idiota.
A habituação é o efeito de tornarmos comum uma determinada rotina ao longo do tempo. Sabemos que hábitos, por exemplo, precisam de um tempo de pelo menos 3 meses para se solidificarem. Assim sendo quanto mais passa o tempo, mais tendemos a assumir um determinado comportamento ou ponto de vista caso a repetição deste comportamento esteja presente.
E é aí que afirmo que o tempo não cura. Habituar-se e ter perspectiva de longo prazo podem ser elementos que servem tanto para o “bem” (ou “cura”) quanto para o “mal” (ou “ferida”). Pode-se, por exemplo, criar o hábito ao longo do tempo de remoer a dor que se sentiu durante uma briga. Assim todos os dias penso na dor que senti quando uma pessoa me feriu e crio este hábito. Junto com isso a pessoa pode ficar vendo a perspectiva de longo prazo prestando atenção em quanto tempo faz que a pessoa o feriu “e nem me pediu desculpas ainda”. Obviamente esta maneira de “passar o tempo” não vai ajudar a curar nada!
Por outro lado, quando percebo que a pessoa busca compreender a sua situação atual e adaptar-se à ela, sei que o tempo irá ajudar. Quando busca olhar o passado e tentar aprender com ele e enriquecer a sua vida e suas experiências, entendo que a pessoa está criando um hábito que ira ajudar: aprender e evoluir. Muitas pessoas fazem isso: olham para o passado com uma “distância quente” e buscam novos pontos de vista sobre ele que possam ajudar ela a crescer e a compreender a sua própria história. Quando fazem isso o tempo ajuda e muito, pois estes hábitos tendem a se solidificar, como já afirmei acima, e, com isso, a pessoa desenvolve e solidifica um hábito muito positivo.
E você? Se afunda na dor ou busca novos horizontes mesmo no seu passado?
Abraço
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