• 15 de abril de 2015

    O tempo cura! (cura?)

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    • Ah Akim… eu não sei direito…

    • É difícil este tema pra ti né? Está sentindo isso como uma perda?

    • Sim! Eu perdi ela mesmo… não percebi o que estava acontecendo… mas sei lá… deixa assim… uma hora passa.

    • Sei… é um jeito de encarar.

    • O tempo sabe? Acredito muito nisso.

    • No que?

    • Que o tempo ajuda a curar as coisas.

    • Sim, ou a gangrenar também… afinal você ficou um bom tempo sem perceber o que aconteceu na sua relação e ela terminou.

    • Pô… precisa falar assim?

    • Para te colocar em contato com o real? Sim! Não gosto, mas preciso…

    • Tá… é foda, mas você tá certo… é que eu não gosto disso…

    • Eu sei, eu sei….

     

    O tempo cura. Ouvi esta frase inúmeras vezes na clínica ao longo dos anos. Conclusões? Sim, algumas que compartilho com o leitor aqui.

    O tempo cura? Não!

    O que o tempo faz? Várias coisas e elas podem ajudar você a se curar ou a se enterrar ainda mais profundamente. Em primeiro lugar precisamos entender  o que se quer dizer com “o tempo cura”: não é o “tempo” em si, porque o “tempo” não é uma entidade metafísica que se materializa e bate na sua cabeça te curando de alguma coisa. Assim o que se quer dizer com esta frase é que a passagem do tempo cura, ou seja, o passar dos dias, meses e anos tem um efeito curativo e/ou terapêutico. Se isso fosse verdade não existiriam traumas! O que acontece na infância ou na adolescência seria “curado” e todos viveriam felizes depois de um mês ou dois. Obviamente a vida não é assim.

    O passar do tempo é algo que proporciona alguns elementos: perspectiva e tempo de habituação. A passagem do tempo faz com que consigamos ver um determinado acontecimento em perspectiva temporal distinta. Olhar para uma briga que tivemos ontem no dia de hoje é diferente de olhar a mesma briga daqui a um ano. Os elementos que realmente ficam em evidência são distintos e muitas vezes aprendemos algo ao longo do caminho que classifica a briga como idiota.

    A habituação é o efeito de tornarmos comum uma determinada rotina ao longo do tempo. Sabemos que hábitos, por exemplo, precisam de um tempo de pelo menos 3 meses para se solidificarem. Assim sendo quanto mais passa o tempo, mais tendemos a assumir um determinado comportamento ou ponto de vista caso a repetição deste comportamento esteja presente.

    E é aí que afirmo que o tempo não cura. Habituar-se e ter perspectiva de longo prazo podem ser elementos que servem tanto para o “bem” (ou “cura”) quanto para o “mal” (ou “ferida”). Pode-se, por exemplo, criar o hábito ao longo do tempo de remoer a dor que se sentiu durante uma briga. Assim todos os dias penso na dor que senti quando uma pessoa me feriu e crio este hábito. Junto com isso a pessoa pode ficar vendo a perspectiva de longo prazo prestando atenção em quanto tempo faz que a pessoa o feriu “e nem me pediu desculpas ainda”. Obviamente esta maneira de “passar o tempo” não vai ajudar a curar nada!

    Por outro lado, quando percebo que a pessoa busca compreender a sua situação atual e adaptar-se à ela, sei que o tempo irá ajudar. Quando busca olhar o passado e tentar aprender com ele e enriquecer a sua vida e suas experiências, entendo que a pessoa está criando um hábito que ira ajudar: aprender e evoluir. Muitas pessoas fazem isso: olham para o passado com uma “distância quente” e buscam novos pontos de vista sobre ele que possam ajudar ela a crescer e a compreender a sua própria história. Quando fazem isso o tempo ajuda e muito, pois estes hábitos tendem a se solidificar, como já afirmei acima, e, com isso, a pessoa desenvolve e solidifica um hábito muito positivo.

    E você? Se afunda na dor ou busca novos horizontes mesmo no seu passado?

    Abraço

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