• 27 de abril de 2015

    Medo de se perder

    vontade

    • Eu acho que vou terminar.

    • Porque?

    • Eu não sei… está bom, mas me sinto meio cobrada sabe?

    • Cobrada pelo que?

    • Eu não sei… parece que não preciso me esconder dele, nem mentir.

    • Sim… e o que isso te cobra?

    • Ser eu mesma sabe? Com ele eu sinto que posso ser assim.

    • E qual o problema?

    • Este! Eu tenho medo de me envolver demais

    • Você sabe definir os seus limites quando está tudo bem ou só quando você briga com alguém?

    • Acho que a segunda opção…

    • Entendi… vamos re organizar isso então!

     

    Esta imagem pareceu perfeita para este tema. Relacionar-se com outras pessoas é um desejo humano profundo. Enquanto terapeuta tenho observado que as relações que mais mexem com o ser humano não são as neuróticas e doentes, mas sim as saudáveis.

    As relações saudáveis mexem com o ser humano pelo fato de abrirem os caminhos para que a pessoa se desenvolva. Ao contrário das relações doentes em que as pessoas se protegem atrás de armaduras emocionais que conhecem à anos, as relações saudáveis oferecem espaço para retirar esta armadura, sair do castelo e aproveitar o mundo. Desenvolver-se, embora pareça tentador, envolve lidar com nossos medos reais e mais profundos. Este é o preço de evoluir.

    Um dos medos que percebo nesse tipo de relação é o medo de se perder no outro. Um medo que pode parecer estranho, mas que é super comum à todos nós. Relações nos propiciam contato, mudamos ao nos relacionar, aprendemos manias, desenvolvemos comportamentos e desejamos a outra pessoa ao nosso lado. Quando as coisas estão ruins nos protegemos disso, temos distância e nessa distância uma certa “segurança”, um limite bem claro de onde um e outro terminam. Porém, quando as coisas estão bem, porque distanciar-se? Porque buscar segurança? Porque não “dissolver-se” no outro?

    O medo, no entanto, é sempre uma fantasia. A fantasia, neste caso, é de que se me envolver “demais” perderei a identidade, serei engolfado pelo outro e me perderei. A fantasia que gera o medo tem outra característica: não sabemos como reagir à situação. Se não sei onde “frear” o contato com o outro, por exemplo, ou onde estão os meus limites terei medo em me entregar. Por esta razão as relações saudáveis assustam: não há nenhum fator do outro que freie o seu desejo de mais intimidade. O que fazer?

    A intimidade é um campo vasto. Paradoxalmente quanto mais intimidade e entrega, mais fronteiras com o outro. Porque? Porque a intimidade significa tornar algo familiar e para tornar algo familiar este “algo” precisa ser, antes, não-familiar, ou seja, de outra pessoa. Assim, quanto mais se conhece e se envolve com a pessoas mais ela própria se torna concreta e isso significa que sabe-se cada vez mais quem é o outro e quem é você. O desenvolvimento e os problemas de cada um se tornam cada vez mais diferentes aos olhos do próprio casal.

    Aprender a criar este tipo de intimidade é aquilo que nos afasta do medo de nos entregarmos.

    Abraço

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