• 29 de abril de 2015

    Renúncia

    let-go

     

    • Sabe o que é? Tô de saco cheio de ficar fazendo tudo o que ela quer!

    • Entendo isso.

    • Então o que eu faço? Tô achando que deveria terminar com ela!

    • Esta é uma opção…

    • Qual a outra?

    • Compreender o que te faz estar tão chateado com “ficar fazendo tudo o que ela quer”.

    • Como assim?

    • Bem, você não faz tudo-o-que-ela-quer-o-tempo-todo-sem-nunca-ter-um-tempo-ou-escolha-própria faz?

    • Não, não é bem assim…

    • Pois é… então você está de saco cheio do que?

    • De me sentir obrigado à fazer as coisas que ela quer.

    • É uma obrigação ou é uma escolha?

    • É… pensando desse jeito…

    • E se você escolhe, o que motiva você à fazer isso?

    • Pois é… aí que tá! Não sei sabe? Sempre vi meu pai meio que cachorrinho da minha mãe…

    • E?

    • Sei lá… tenho medo de ficar do mesmo jeito sabe?

    • Sim, sei sim.

    • Mas será que ser parceiro de sua mulher o torna um “cachorrinho” dela?

    • Não deveria ser…

    • Que tal pensar o que te faz um cachorrinho e o que te faz parceiro para você poder saber a diferença?

    • Uma boa…

     

    Toda relação implica renúncia. Embora isso possa ser um choque numa cultura que acredita que devemos fazer apenas aquilo que desejamos fazer a renúncia se mostra fundamental para a possibilidade de convívio.

    Por este motivo boa parte da população confunde a ideia de parceria com a ideia de se subjugar ao outro. Nada mais esperado numa sociedade que briga o tempo todo pelo poder e que não possui uma “filosofia” adequada em relação à este tema nas relações conjugais. Uma das maneiras que as pessoas tem de lidar com esta situação é criar uma lista mental de vezes em que um ou outro cederam e tentar “equilibrar a balança”. “Eu cedi aqui, agora ele cede ali” é o pensamento que norteia esta resolução.

    Uma outra solução é a famosa briga pelo poder onde o casal através das mais variadas técnicas luta para hierarquizar a relação e definir quem manda. Neste caso um adendo super importante é que nem sempre o mais “frágil” é quem é submisso. A aparência frágil não afasta a capacidade de manipulação e, como a terapia sistêmica nos mostra, é muito comum vermos num casal que a parte “fraca” da relação (e quando digo “parte fraca” me refiro tanto ao homem quanto à mulher visto que isso não é uma questão apenas de gênero) manipula e torna a vida do outro um inferno de ruminações.

    A terceira solução mais comum é o distanciamento frio quando se percebe que existe uma impossibilidade de negociação. Os dois lados assumem o outro como uma pessoa mesquinha e inflexível e começam a se afastar de maneira a não colocar mais seus desejos na relação. A distância implica na possibilidade de uma convivência sem intimidade o que pode culminar numa separação ou em atos de traição de ambos os lados.

    A renúncia não implica em ter que lutar para “estar por cima”, nem em quitar dívidas de renúncia e nem em distanciar-se. O ato implica confiança e intimidade. Confiança e intimidade asseguram que as necessidades e desejos de um lado e de outro estão na mesa e são respeitados por ambos. Quando isso ocorre é possível abir mão de algo não porque se sabe que mais tarde o dividendo será cobrado, mas sim porque se respeita o desejo do outro e sabe-se que o seu próprio desejo é, também, respeitado.

    Esta dupla: confiança e intimidade asseguram a segurança de se entregar ao desejo do outro sabedor de que isso significa investir na própria relação que também respeita os seus próprios desejos. É como se ao renunciar à algo que se deseja estivesse ao mesmo tempo investindo em algo que também se deseja. Por este motivo não existem hierarquias: ambos os lados saem ganhando, por esta mesma razão não há lutas pelo poder. E, finalmente, não existem dívidas porque a renúncia é, de forma sublimada, um ganho.

    E você, brigando para saber “quem manda” ou buscando respeitar e ser respeitado?

    Abraço

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