- Então… não sei se quero falar nisso.
-
Ok. Algum motivo específico?
-
Não me sinto bem falando nisso.
-
O que você sente?
-
Me sinto mal… tipo como se eu fosse fraco de falar nisso sabe?
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Sim. E ser “fraco” é algo negativo nos seus valores não é?
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É.
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Entendo. E se pudéssemos apenas falar de uma característica que existe em você e não que isso representa o teu “eu”?
-
Hum… poderia ser mais possível.
-
Vamos tentar.
Nos dias de hoje ninguém deseja ser vulnerável ou frágil. A propaganda é para sermos fortes, destemidos e cada vez mais capazes de tudo. Será isso possível?
Acredito que não. Embora eu seja enquanto pessoa e terapeuta um otimista em relação ao desenvolvimento pessoal, também sou realista e, com isso, percebo os limites que temos. Limite é outro fator que a propaganda cultural atual apregoa como algo ruim, porém, na prática, verificamos exatamente o oposto: quanto mais a pessoa é consciente de suas vulnerabilidades e limites, com mais realismo ela pode lidar com ela mesma. É importante ressaltar que “realismo” não é igual à “pessimismo” e muito menos à acomodação.
Perceber nossos limites é fundamental porque se não os percebermos vamos reagir como se eles não existissem, mas ele existem! É muito mais realista e saudável entender um limite e encontrar maneiras de lidar com ele do que fingir que ele não existe e tentar ser algo que não se é. Buscar ir além dos limites é louvável – quando isso é saudável e possível – porém, para ir além do limite é necessário conhecê-lo.
Conhecer e assumir nossas vulnerabilidades é importante, porém, é igualmente importante saber como fazê-lo. O primeiro passo que sempre verifico e trabalho com meus clientes é retirar qualquer tipo de preconceito e julgamento moral que possa vir junto com a percepção do limite. É comum as pessoas se classificarem pelos limites que tem. Classificam-se moralmente como “boas”, “más”, “legais”, “chatas” através das suas características. Quando o julgamento moral é “bom” em geral as pessoas “gostam” das suas atitudes mesmo que sejam inadequadas, por outro lado, quando o julgamento é “ruim” elas não gostam, mesmo que a característica seja boa. Por esta razão é importante perceber que o limite é apenas isso, um limite, uma vulnerabilidade e ela não faz do teu “eu” algo bom ou ruim apenas por existir.
É verdade, no entanto, que nossas vulnerabilidades podem nos trazer alguns desconfortos ou nos colocar em situações de apuros. Nesse sentido é importante refletir sobre que tipo de “resultados” nossas vulnerabilidades nos predispõem. Novamente deixamos o critério moral de lado e passamos a verificar de fato o que ocorre para sabermos que tipo de mudanças desejamos e precisamos realizar. A partir disso é que podemos começar a nos equipar para saber, por exemplo, como agir numa situação afim de minimizar os danos, ou como nos anteciparmos para não entrarmos em determinadas situações já que sabemos dos nossos limites e até mesmo em que tipo de situação os limites que temos podem ser úteis. Isso se chama adequar a vulnerabilidade. Uma planta é um ser muito vulnerável, porém, num jardim ela está no lugar certo.
Depois disso vamos ao próximo passo: o que precisamos organizar de novo em nós? Aqui é o momento do desenvolvimento de novas competências – ou como alguns dizem: de novos limites. Perceba que não tornamos o limites algo ruim ou desejoso de ser excluído, apenas o colocamos no seu devido lugar e, depois disso, passamos a organizar novas maneiras de ação. Isso é aprender a lidar com as nossas vulnerabilidades. Parece algo muito ruim para você? Para mim não e para os clientes com quem trabalho também não depois que se acostumam com a ideia.
Este é o ponto que gostaria de deixar claro no post de hoje. Precisamos, no mundo de hoje, aprender a ser vulneráveis. Não significa sair na rua fazendo todo tipo de bobagem para se expor, mas sim aprender a reconhecer os nossos limites e, com isso, reconhecer os dos outros também. Talvez isso seja algo importante para um mundo mais humano.
Abraço
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