- Eu não quero falar sobre isso.
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Porque não? É difícil para você?
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É… muito!
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Entendo. Talvez você se sinta vergonha ou culpa em relação à isso?
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Vergonha.
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Sei. Conhecendo você, acho que não precisa sentir que algo dentro de você é tão indigno assim.
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Eu sei também… mas mesmo assim é difícil sabe?
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Sei sim… não quero forçar você a dizer, apenas questionar a emoção que está presente no sentido de que essa “coisa” aí guardada pode ajudar você à crescer se for aceita e integrada.
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Eu entendo…. (respira) é que nem sempre eu sou tão forte quanto ajo… eu tenho um monte de dúvidas e ninguém sabe disso!
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Obrigado por ter dito… é… que bom que você tem dúvidas… prova que você é humano! Bem vindo ao clube!
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(Risos) Ai… é muito complicado admitir isso.
-
Perfeito, reconheço. Vamos trabalhar um pouco com isso, apenas tome folego e relaxe, não foi tão ruim assim né?
O ser humano é complexo em sua estrutura psíquica. Nela podem coexistir as mais variadas ambiguidades e os maiores paradoxos. Como lidamos com estes paradoxos é sinal de maturidade e exige muito trabalho.
Algo comum de acontecer é quando nossa auto imagem está distante de quem somos de fato, ou daquilo que damos conta de ser. Desejamos ser independentes e fortes, entendemos e acreditamos nas ideias que sustentam esta percepção e temos nos comportado de maneira à seguir isso. No nosso íntimo, no entanto, muitas vezes temos outros sentimentos referentes à menos valia, dúvidas, incertezas e inseguranças sobre nós e nosso comportamento. O que fazer com isso?
Como disse anteriormente o interessante é que conseguimos ter ambos os estados em nós ao mesmo tempo. Podemos ter uma atitude muito forte sentindo medo dentro de nós, por exemplo. Muitas vezes uma emoção como o medo é exatamente o gatilho que dispara uma reação de força e coragem. Assim sendo não é um problema que uma emoção se contraponha à uma percepção que tenho de mim. Isso apenas se torna um problema se quero fingir para eu mesmo que isso não existe.
Embora muitos psicólogos diminuam o saber intelectual, eu o defendo. É um começo, por assim dizer que torna as coisas mais simples. Saber que eu posso ser mais forte e independente – no sentido verdadeiro desta palavra e não a independência fria – é melhor do que achar que eu devo continuar sendo submisso. Assim a pergunta que surge é: o que estrutura a emoção sentida e a percepção de si que ela acompanha? Qual a motivação daquela emoção?
Na linha do problema da independência, a pessoa pode desejar ser mais independente, mas sentir medo de fazer algo sozinha quando está numa relação, por exemplo. Este sentimento pode ter sido motivado por aprendizados passados nos quais ao buscar movimentos independentes a pessoa era punida de alguma maneira ou desacreditada. Continuou buscando a independência, mas emocionalmente não conseguiu criar uma base sólida que sustentasse a sua percepção de eu.
Neste caso, pode-se trabalhar com este aprendizado passado e buscar ressignificar o que aconteceu lá para que a pessoa possa olhar para estas memórias com outros olhos. Isso a ajuda a se libertar da percepção de que ela deve sentir medo de buscar seu próprio caminho e encarar possíveis brigas ou desentendimentos em relação à ele de outra maneira. Neste caso, como a percepção de ser independente já existe é um bônus porque ela está construindo algo que acredita, apenas tinha medo.
Assim sempre recomendo que as pessoas não sintam medo em aceitar dentro de si sentimentos contraditórios. É um tanto assustador, eu sei, mas estas percepções são importantes de serem aceitas e trabalhadas para se tornarem uma parte da pessoa integrada com o restante. Em outras palavras: elas não estão aí para sabotar você, apenas para aperfeiçoar você.
Abraço
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