• 10 de junho de 2015

    Ditadura do “estar bem”

    risada-falsa

    • Mas sabe… é só uma coisa que aconteceu sabe?

    • Claro…

    • Ou você acha que pode ser algo ruim isso?

    • O que você acha?

    • Não… acontece…

    • Porque a dúvida então?

    • Não é dúvida… é só… te perguntando… você sabe melhor né?

    • Não. Do que acontece aí dentro eu não sei melhor, quem sabe é você.

    • (silêncio)

    • O que me parece, na verdade, olhando para você nesse momento é que isso incomodou mais do que você consegue ou gostaria de admitir.

    • Mas é que tipo… tá indo tudo bem na minha vida… um negócio como esse não pode atrapalhar.

    • Não “pode”? Creio que se você está  pensando nisso…

    • Tá certo… tá certo… eu gosto de negar essas coisas… já trabalhamos isso…

     

    Nathaniel Branden um dos psicólogos que pesquisa a auto estima afirma que um dos problemas que enfrentamos com a auto estima hoje em dia é o excesso de propagando em torno dela. Estranho não é? Na verdade não.

    Ocorre que existe uma diferença abissal entre desenvolver uma auto estima positiva e ser obrigado a desenvolver uma auto estima positiva. A propagando que temos hoje em dia coloca tanto foco no “estar bem” que sentir-se triste, por exemplo, torna-se uma prova de fracasso. Em outras palavras valorizar excessivamente um aspecto de nossas vidas acaba por prejudicar o seu próprio desenvolvimento por colocar uma pressão muito grande sobre ele. Chamamos isso de ditadura do bem estar, ou da auto estima, como preferir.

    No consultório percebo isso vendo as pessoas buscando desesperadamente maquiar sensações desagradáveis, desejando imensamente dizer que algo que incomoda não incomoda ou – a pior versão disso – entendendo qualquer emoção que possa causar desprazer ou falta de prazer imediato como algo ruim e nocivo à “auto estima”. Essa versão é a mistura da propaganda excessiva com a sociedade de consumo na qual vivemos que dita que temos que ter prazer o tempo todo.

    Auto estima não tem a ver com prazer ou com apreciação estética, deixe-me deixar isto bem claro. A auto estima tem a ver com a construção de um sentimento de valor próprio que inclui a sensação de sentir-se preparado para encarar a vida e merecedor de respeito e felicidade. No entanto, a pessoa com auto estima verdadeira sabe que precisa construir isso para ela, que a vida vai lhe trazer desafios enquanto ela busca concretizar seus sonhos. Sentir-se preparado para isso é o que a auto estima verdadeira constrói.

    Neste trajeto ela não exclui as sensações de tristeza caso perca algo que considera importante, mas atém-se à ela e usa esta emoção para compreender o que realmente importa para ela na vida (às vezes só aprendemos o que é importante depois de perder). Também não é avessa à emoção de arrependimento, remorso ou culpa. Aprende com estas emoções que não adianta burlar seus valores pessoais em busca de “crescimento fácil” ou para aproveitar a “onda do momento”, compromete-se com o seus sistema de valores. Sentir-se incomodado também não é algo par ser descartado, mas sim uma emoção que deve ser valorizada por nos mostrar que temos que mexer em algum aspecto de nossas vidas.

    Neste breve exemplo podemos ver que emoções ditas negativas (particularmente não concordo com esta classificação e acho-a contraproducente) podem ser muito positivas e nos ajudar muito em nossas vidas.

    Que emoções você oculta?

    Abraço

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