• 15 de junho de 2015

    Tristeza

    Tristeza

    • Eu não ando muito bem.

    • O que acontece?

    • Eu estou deprimida sabe? Preciso me livrar logo disso!

    • Deprimida? O que acontece?

    • Depois lá que bonitinho me de um pé na bunda eu fiquei assim, mas não posso ficar assim.

    • Porque não?

    • Porque é errado ficar chorando por causa de homem.

    • Ah é? Hum… bem e por causa de sentimento pode?

    • Como assim?

    • Chorar por homem é errado, ok, mas e chorar por causa do que você sentiu por este homem pode?

    • Não sei… acho que não também.

    • Então você não pode ficar triste por perder algo que você achava que era importante, bom pra ti?

    • Não sei também.

    • É que me pergunto: se você não pode se entristecer – e não “deprimir” como você está colocando – por causa disso, pelo que poderia?

     

    A tristeza é uma das emoções mais importantes que sentimos. Ela nos fala daquilo que nos é importante e foi perdido. No entanto, culturalmente é uma das emoções que menos podemos expressar e que mais possui pre conceitos em cima.

    O trecho acima foi escolhido porque fala de vários deles. O primeiro e mais comum atualmente é a confusão imensa que se tem feito entre estar deprimido e estar triste. Tristeza não é doença, depressão é. Ponto. Quem está triste porque perdeu emprego, alguém morreu, levou um pé na bunda não é um doente, logo não está “deprimido” e não precisa “sair logo dessa”. Existe o que se chama de “estado deprimido” o que é muito diferente de dizer que se está com depressão. Estado deprimido também é algo natural, não é doença e é um estado que acompanha a tristeza. Ficamos mais deprimidos justamente para criarmos um estado de introspecção maior e refletir sobre aquilo que perdemos, muitos psicólogos e pesquisadores dizem que esta é a função da tristeza: nos dar o estado emocional adequado para realizarmos o luto.

    “Sair logo dessa” é o desejo da nossa cultura atual que acha que, em primeiro lugar, tristeza é doença (porque é depressão) e ninguém quer ficar doente, óbvio. Em segundo, porque como ninguém é ensinado a viver o luto e a tristeza as pessoas simplesmente não sabem como lidar com esta emoção e temem que ela possa “dominar a pessoa”. Nada mais errado, a tristeza apenas “domina” a pessoa se ela não aprender a lidar com ela e fugir  dela ou fingir que está tudo bem são os comportamentos menos adequados para aprender a lidar com ela.

    O terceiro preconceito é de que ela é inútil. O famoso ditado “não adianta chorar sobre o leite derramado”. Novamente mostra uma infeliz falta de conhecimento sobre o que é ficar triste. Ninguém chora porque o choro irá trazer algo de volta, é justamente pelo contrário que se chora, para fazer o luto pelo que se perdeu. É pela mesma  razão que se fica triste, uma espécie de despedida daquilo que foi. Este ditado, hoje com uma releitura, tem a ver com nossa cultura de reclamações que nos induz a achar que se reclamarmos bastante podemos ter algo novamente. Tristeza não tem a ver com isso, tem a ver com a aceitação da perda, logo este preconceito é ignorante dos motivos da tristeza, ao fazer o luto adequadamente os “benefícios” são que a pessoa passa para a próxima fase mais sábia sobre si e sem carregar fantasmas do seu passado como muitos que não choram, mas também não evoluem.

    Estar triste, então, é simplesmente a emoção que é despertada quando constatamos que algo importante para nós foi perdido. Nada mais. Pode-se viver bem esta tristeza, aprender com ela – e muitas vezes isso muda a vida das pessoas – e pode-se viver mal a tristeza – seja aumentando ela desnecessariamente ou negando-a veementemente. Ambos os jeitos são equivocados e demonstram falta de competência em lidar com este afeto. Se você tem algum destes comportamentos sugiro que busque um psicólogo para ajudá-lo.

    Abraço

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