- O problema é que eu amo ele!
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Amor não é problema.
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Se eu não amasse ele não estaria nessa situação.
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Na verdade o problema não é amor, mas sim que você criou ilusões sobre ele.
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É… pois é…
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Eu me lembro de ter dito à você que aquilo que você estava vendo “nele” era algo que você queria e não ele.
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Entendo… o que eu faço agora?
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Tens que ver ele como ele é e aí sim perceber se quer passar a vida com este homem “real”.
Se você se surpreendeu com o título deste post é porque provavelmente crê em ideias como “o amor supera todas as coisas” ou “tendo amor o resto vai”. Convido você para uma reflexão importantíssima sobre o tema.
A ideia de que o amor é o que importa é nova em nossa sociedade. O amor romântico enquanto uma instituição social aceita não tem muito mais do que 200 anos. O amor romântico tem como base uma relação que se estabelece com base no afeto entre duas pessoas. Antes dele tínhamos o amor familiar onde as relações eram constituídas pelas famílias. Para nós do Ocidente atual é difícil compreender, mas existia sim amor neste tipo de arranjos.
O fato é que o amor romântico criou como norma social a ideia de que devemos nos relacionar com pessoas tomando por base nossas emoções, dessas o amor é o que mais nos aproxima de uma outra pessoa. A sensação de paixão e de amor se juntam formando a base pela qual desejamos nos apegar e viver a vida com alguém. A grande abertura que o amor romântico trouxe foi esta de que um plebeu poderia se apaixonar por uma nobre e, por meio do ideal do amor romântico, ele poderia tê-la, seria “moralmente adequado” que eles ficassem juntos. Achou estranho o “moralmente”? Pois bem, é exatamente esse avanço que o amor romântico traz: uma permissão moral para que casamentos arranjados e casamentos por afeto pudessem ser validados, para que se tenha ideia, o desejo de não casar-se com alguém previamente arranjado pela família, antes, poderia ser alvo de um crime de heresia e adultério (sim, traição para com a família de origem).
No entanto, o que o amor romântico com as baladas de Tristão e Isolda, Romeu e Julieta e outros esqueceu de se importar foi com o que se faz “depois” que o namorico começa. O que temos nas histórias é a luta para que a relação possa acontecer, depois disso ou os amantes morrem como nas histórias citadas acima ou a história termina com um “viverão felizes para sempre”. O ponto é que amar é apenas o começo. Amar não basta.
Porque afirmo que amar não basta? Porque o ponto é que a emoção de amor, ao contrário do que se pensa, nem sempre está calcada na realidade. Algumas vezes ela está, mas quase nunca é o que se vê. As pessoas tendem a amar projeções, fantasias, medos, e desejos que elas tem e colocam em cima da pessoa ou do próprio ato de se relacionar. Daí que sentem a emoção de amor, porém esta emoção com o tempo irá se dissolver por não ser real. Este é só o primeiro ponto, o segundo é que mesmo que o amor esteja calcado em bases reais a emoção de amar e sentir desejo um pelo outro não são coisas “garantidas”, elas precisam ser criadas e re criadas ao longo do tempo. Sim, relacionar-se dá trabalho – e muito – e, para isso a nossa sociedade romântica e consumista não está preparada.
Estamos preparados para nos apaixonar e sermos felizes para sempre sem muito esforço. Porém esta é a minoria dos casamentos – e isso não quer dizer que esta minoria é “especial” ou “melhor”, mas apenas que deram “sorte” de encontrar pessoas extremamente parecidas. Mesmo nessa minoria, entretanto, existem as necessidades de ajustes, conversas e decisões. Assim a questão é que amar é importante, porém saber manter o amor e saber relacionar-se é o que realmente irá fazer o casamento ir mais ou menos para a frente. Falamos em emoções, porém não percebemos que precisamos de competências, saber como se relacionar com as pessoas.
O que vejo no meu consultório hoje é cada vez mais emoção e menos competência. Pessoas que se apaixonam rapidamente, mas que não sabem como construir uma relação. Passado o furor da paixão os casamentos se deterioram rapidamente. Por este motivo escrevo este post, como um alerta, um chamado à consciência e reflexão. Os índices de divórcio não estão aumentando apenas porque as pessoas “são mais livres” para decidir, mas sim porque estamos cada vez menos competentes para nos relacionar com os outros e criar atmosferas onde uma relação entre duas pessoas reais possa, de fato, acontecer.
Abraço
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