• 3 de julho de 2015

    Intimidade e poder

    Couple Relaxing in Bed --- Image by © Laura Doss/CORBIS

    • Mas eu estou insatisfeito.

    • Sim, percebo, agora, porque não abrir isso para a sua esposa?

    • Não dá…

    • Porque não?

    • Porque depois ela usa isso contra mim. Vai ficar me enchendo o saco por causa disso!

    • Entendo… Então é melhor manter o controle do que se abrir?

    • Algo assim.

    • Que relação estranha não?

    • É… pensando assim… parece uma briga né?

    • Parece

    Num post anterior falei sobre a intimidade como a habilidade de tornar familiar algo entre duas ou mais pessoas. Pensando num casal, a intimidade traz consigo vários benefícios, pois, com ela, a  sensação de empatia, pertencimento e entrega aumentam. Junto com isso tem-se maior facilidade para negociar os aspectos do dia a dia assim como confiança naquilo que o parceiro é capaz ou não de fazer.

    Na intimidade descobre-se os novos rumos do casal e pode-se discutir com mais eficiência a relação quando isso é necessário pois a quantidade de informações disponíveis sobre o outro é maior. Conhecer mais o outro e permitir-se ser conhecido é algo que aumenta o desejo pela criação do novo, então ao invés de diminuir, o mistério aumenta. Porém este aumento de mistério é algo que atrai pelo fato de existir um porto seguro entre os dois.

    Porém a criação de intimidade vem com o preço da diminuição da briga pelo poder. Toda pessoa ao entrar em uma relação possui alguns medo e desejos. Ao longo da relação começam a ficar evidentes alguns medo que podem acontecer e alguns desejos que não serão realizados. Assim começa a briga pelo poder. A maneira de uma pessoa buscar garantir que seus desejos serão satisfeitos é através do poder que exerce sobre o outro.

    Porém o poder termina com a intimidade. Um dos pontos do poder é o segredo, ou seja, a retenção de informações sobre eu mesmo afim de poder manipular o outro ou de não permitir ao outro ciência sobre o que me aflige. Uma vez que há disputa pelo poder não existe o desejo de “tornar familiar”, mas sim o desejo de conquistar e reter, manter, dominar o outro para que a relação se torne aquilo que eu desejo. O desejo pelo poder na relação acaba com o desejo de entrega e isso faz com que a intimidade desapareça.

    O efeito mais interessante, entretanto, é que na briga pelo poder muitas vezes os casais realizam seus piores medos através dos comportamentos que assumem. Ou seja, quanto mais lutam contra o parceiro para que seus medos não se concretizem, mais se comportam de uma maneira que influencia a pessoa a se comportar da maneira que eles não querem e temem. A briga pelo poder não constrói as condições para a reflexão sincera e, por esta razão, não faz com que ambos cheguem a entendimentos sobre si e sobre a relação que é o que pode, de fato, fazer com que se crie uma relação em prol do que a pessoa quer e não uma que evite o que ela não quer.

    Assim, ao invés de negar medos é interessante revelar medos. Mais interessante ainda é revelar aquilo que se deseja da relação com um foco positivo: o que eu espero de fato. Isso é o que “cura” o medo. Se a pessoa tem medo de segredos, por exemplo, deve buscar construir uma relação com foco na sinceridade e transparência e saber como lidar com estes aspectos.

    Ser íntimo é mais do que saber fatos sobre a pessoa. É ter a habilidade e a relação na qual existe espaço e desejo de ouvir e ser ouvido, compartilhar informações, emoções, vivências e desejos sabendo que eles serão respeitados e incluídos na relação. É ter um sentimento de aceitação de si e do outro ao invés de medo daquilo que vem do outro. E é uma delícia.

    Abraço

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