- Mas aí eu vou demonstrar que sou fraco.
- Porque?
- Porque vou estar fazendo o que ele quer.
- Hum… então demonstrar força é perceber que o outro tem razão, concordar com ele, mas fazer o contrário por pura arrogância?
- Mas o que vão pensar?
- Depende de como você vai agir. Onde está a fraqueza em perceber que uma ideia é melhor que outra?
- Não é fraqueza isso.
- E não é isso, em síntese o que está acontecendo?
- Sim.
- Se não fosse seu pai dizendo isso, você estaria tão relutante em aceitar?
- É… pensando bem… não…
- Então, o que é ser forte nesse momento?
- Pensando assim… talvez se eu falar que concordo vou ser mais forte porque… bem… eu sempre falo que ele nunca aceita ideia de ninguém mesmo que concorde com ela.
- E?
- Bem, eu prego contra isso, e se eu não aceitar farei o mesmo que ele.
- E se aceitar?
- Vou estar de acordo com o que eu penso: uma boa ideia é uma boa ideia, não importa de quem venha.
O que é “ser forte”? Muitas pessoas em seus processos de terapia acabam mostrando medo em sentir-se fracas. Assim, fazem “algo” para não se mostrar “fracas” e chamam isso de “força”, seria “ser forte” fugir de “ser fraco”?
A estratégia por detrás desta maneira de agir é de afastamento. Ou seja, imagino aquilo que não quero e ajo de uma maneira que me pareça distante daquilo que não quero, afasto-me daquilo que temo ou não desejo. Isso, como o leitor pode ter deduzido, não nos conduz ao que desejamos. Ou seja fugir ou esquivar-se de uma briga não quero dizer que sei como me defender caso tenha que lutar.
E é aí que o conceito de “força” emocional ou psicológica se aplica. Força no sentido físico é a quantidade de energia aplicada a determinado objeto. É uma medida quantitativa. Quando levamos esta ideia para a mente e as emoções “força” significa a disposição que a pessoa tem para enfrentar de maneira adequada determinadas situações. Neste sentido a força não tem a ver com o comportamento em si, mas sim com sua adequação à situação, às emoções de quem vive ela e com os objetivos da pessoa. Ser forte, é algo relativo e não definitivo, o mesmo comportamento que pode demonstrar força em uma situação pode ser evidência de fraqueza ou de fuga em outra.
O que fazer se quero ser forte?
Em primeiro lugar é importante parar de fugir. A fuga é uma estratégia sábia e importante em momentos nos quais o ônus de lutar será maior do que conseguimos suportar. Como diz o ditado romano: o bom general sabe quais batalhas lutar e quais não lutar. Parar de fugir significa encarar aquilo que tememos e responder à pergunta: o que seria ser forte nessa situação?
Uma vez respondida esta pergunta é importante ligar isso à situação e ao que desejo. Pessoas com problemas de dependência tem nisso a missão de suas vidas. Não basta dizer “não quero ser dependente”, mas sim compreender “o que é ser dependente?”, “de que maneira percebo que estou agindo de forma dependente”, “como me sinto ao fazer isso”, “o que isso acarreta para minha auto estima”. Isso é encarar o medo, esse é o começo da força: conhecer suas fraquezas. É assim que se constrói uma fortaleza: conhecendo seu terreno, suas fraquezas e virtudes.
O segundo ponto é: “o que preciso fazer para sentir que sou forte?” Veja que “sentir-me forte” é diferente de “não sentir-me fraco”. “Como vou evidenciar que estou construindo força emocional?”, “de que maneiras posso agir para mostrar força?”. Estas perguntas conduzem a pessoa a criar um modelo para buscar. Este modelo poderá ser mudado ao longo de sua vida, ela poderá (assim espero) encontrar novas definições de força ou formas de expressá-la.
O terceiro ponto é agir. A ação é a maneira mais eficaz e talvez a única de realmente alterarmos nossa percepção de eu e abrirmos nossos paradigmas à novas concepções. Sem a ação temos bons planos. Com a ação teremos desafios e a insegurança natural da ação e junto com ela a energia da aventura de viver.
E aí, vamos construir força nessa mente e coração?
Abraço