• 31 de agosto de 2015

    Apreciação e felicidade

  • Eu não estou satisfeito sabe?
  • Com o que?
  • Ah… com a minha vida. Está tudo um saco.
  • Hum, me conte o que está um saco?
  • Tudo.
  • Tudo? Bem, semana passada você estava me dizendo que esteva feliz da vida com seu carro novo!
  • É… bom…
  • Então não é “tudo”. O que, de fato, está te chateando?
  • Ah Akim… é que não estou conseguindo ir direito nos estudos sabe?
  • Sei. Está incomodado com isso?
  • Sim.
  • Que bom! Que tal dizer que isso te incomoda então, ao invés de está tudo uma droga?
  • É… é mais o que eu realmente estou sentindo.
  • Perfeito, então vamos trabalhar com isso, mas antes, quero que faça um tour mental no que está dando certo na sua vida.
  • Ok… é… tem bastante coisa.
  • Ótimo, agora vamos focar, estudos… o que mudar?
  • A felicidade é um sonho de todos. Todos temos critérios do que nos tornaria felizes como uma casa, uma conta bancária maior ou a possibilidade de viajar todos os anos. Mas até que ponto tudo isso é realmente necessário à felicidade?

    Por mais que essas coisas todas despertem sensações e emoções prazerosas em nós, convém lembrar de outro fato: em geral, após termos uma vitória ou conquista, a sensação de bem-estar que ela provoca não dura muito tempo. Ela dura, na verdade, o tempo suficiente para que nosso cérebro se habitue com o novo padrão de vida. Uma vez que isso ocorra, ter um milhão na conta ou ter mil reais soa para o nosso cérebro como “a minha conta”, ou seja, da mesma maneira.

    É óbvio que não descarto aqui as possibilidades que esta diferença tem. Ela é importante, porém o foco da discussão aqui é que aquilo que se ganha não mantém um estado emocional durante muito tempo. “E existe algo que faz isso?”, você pode perguntar. Sim, existe. Inclusive, esta é uma das chaves que se estuda muito em relação ao tema felicidade.

    Estudos do psicólogo John Gottman mostram que um exercício muito simples é capaz de aliviar sintomas de depressão leve e moderada num prazo de até duas semanas. Anota-se, ao final do dia, num caderno coisas boas pelas quais a pessoa passou. Este pequeno ato é capaz de atenuar sintamos e muitas pessoas mantém este registro por longos períodos pelo seu benefício. Chama-se isso de exercício da gratidão.

    A gratidão é uma emoção que sentimos ao obter alguma dádiva de alguém ou de alguma força superior na qual a pessoa creia. Esta emoção possui um componente importantíssimo que é seu fundamento: perceber algo de bom em sua vida e apreciar este algo. A gratidão é impossível sem esta percepção. Esta apreciação é uma das chaves que se tem estudado na nossa busca pela felicidade.

    Pessoas que são felizes em geral tendem a apreciar suas vidas, suas rotinas, amigos, parceiros e bens. A apreciação necessita de contato com aquilo que temos. Ao apreciar valorizamos aquilo que já existe. Este valor que se vai atribuindo aquilo que já existe é importantíssimo para que a sensação de bem-estar e felicidade exista. No consultório, por exemplo, recebo muitas pessoas que simplesmente não conseguem olhar para o que possuem e fazem de bom. Entre dez atitudes positivas e uma meio negativa, esta última assume um valor maior que as outras dez.

    Apreciar é extrair da experiência toda a sua essência. Entre beber uma taça de vinho e apreciar uma taça de vinho existe muita diferença. Apreciando conhecemos muito mais os detalhes do vinho, apreendemos suas características e tornamos nossa experiência muito maior. É comum que ao degustar um vinho as pessoas bebam menos, inclusive, pelo fato de a experiência ser tão interessante que os sentidos ficam saturados pela informação.

    Assim, se você quer ser feliz, é importante aprender a apreciar aquilo que tem. O contra argumento é dizer que isso faz a pessoa ficar acomodada. O argumento é falso por dois motivos: em primeiro lugar o medo de não atingir metas pode ser tão paralisante que a pessoa nunca dá um passo fora do seu quadrado. Em segundo apreciar não significa não desejar mais experiências. A diferença é que se dá valor à cada experiência ao invés de passar por cada um delas rapidamente como num fast food.

    Então, aprecie sua vida. Seus amigos, sua família, suas posses atuais. Aprenda a dar valor ao que há para que você possa sonhar com aquilo que realmente deseja e ir atrás com ainda mais convicção.

    Abraço

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