• 9 de setembro de 2015

    Tolerância à frustração

    – E daí eu fiquei muito brabo!

    – Porque?

    – Ah… todo o trabalho que eu tive e daí vem e me diz que simplesmente não quer?

    – Qual o problema?

    – Meu! Eu me DEDIQUEI para isso!

    – Sim, eu sei. E vi a sua dedicação. E vi que não conseguiu. Qual o problema?

    – Como assim?

    – Você foi o único a não conseguir?

    – Não, teve uma galera.

    – Então… acontece. Às vezes conseguimos e às vezes não conseguimos o que queremos.

    – Assim?

    – É… você acha que só porque resolveu estudar a empresa tinha obrigação de te contratar?

    – Bem… não né, mas porra…

    – Então… você simplesmente não passou no teste, assim como um monte de pessoas por lá.

    – É ruim isso.

    – É frustração o nome disso… agora, como você lida com ela?

    Tolerar frustração é uma característica importantíssima para vencermos desafios, organizarmos nossa auto estima e melhorarmos nosso auto conhecimento. Pessoas que não toleram bem a frustração sofrem muito com os desafios da vida e das relações, mas porque alguns não toleram bem esta emoção?

    Frustração é uma emoção que surge quando alguma meta e/ ou expectativa não é atingida. Então vem a reação à este sentimento. No entanto a reação não está baseada apenas na percepção de que algo desejado não foi atingido. A reação envolve a percepção da pessoa em relação à perder algo, não conseguir algo, à própria sensação que a emoção da frustração causa, à sua auto imagem e ao valor que atribui ao que não foi conseguido.

    Ter baixa tolerância à frustração significa ter que a pessoa não suporta a sensação que a frustração traz, que ela não possui um ego forte o suficiente para lidar com a realidade do que aconteceu e nem se manter motivada para continuar sua busca em prol do que quer. Aceitar a realidade e enfrentá-la tem sido um dos problemas mais comuns de encontrar em consultório junto com outro: uma auto imagem idealizada que não se permite falhas.

    Então, de uma forma mais didática, pode-se refletir sobre alguns pontos que conduzem à baixa tolerância à frustração: identificação com uma auto imagem por demais negativa, choque entre realidade e auto imagem falsa ou idealizada, medo de que terceiros descubram uma auto imagem negativa e não aceitação da realidade.

    Quando a pessoa tem uma auto imagem negativa demais a frustração serve como uma afirmação dessa auto imagem. Ou seja, quando a pessoa não atinge um objetivo, ela diz para si, por exemplo, “sou realmente um otário, nunca consigo nada”. Assim a reação da pessoa frente à frustração ou à possibilidade de se frustrar, em geral tende a ser de fuga e evitação ou de raiva. Típico a pessoa explodir por não conseguir algo simples ou sentir-se muito ansiosa frente à não atingir uma meta. O problema, aqui não é o que não foi atingido em si, mas sim a confirmação da auto estima negativa.

    Uma auto imagem falsa ou idealizada é uma auto imagem que mascara um eu, em geral, frágil e mal formado. Assim, por exemplo, a pessoa parte para uma determinada tarefa ou empreitada certa de que irá conseguir. A realidade mostrar-se diferente disso mostra a ruptura entre o que ela “sabia que aconteceria” e o que aconteceu. O problema aqui é que esse fenômeno mostra à ela uma porção do seu próprio eu que ela não conhece, nega ou não gosta. Típico comportamento de pessoas mimadas que se chocam com o real, não pelo real em si, mas sim pelo fato de que este mostra à ela quem ela é.

    Num outro caso quando a pessoa tem uma auto imagem muito negativa ela pode ter medo de que terceiros descubram isso. Ela sente que consegue esconder o quão ruim – na opinião dela própria – ela é se não se meter em “confusão”, ou seja, se evitar a vida de uma forma geral. Quando frustrada a pessoa sente que o seu lado ruim foi exposto e isso é extremamente duro para ela por não saber lidar com a sua própria sombra.

    Já quando a pessoa não aceita a realidade o problema é outro. Trata-se de ter uma definição muito rígida sobre o que as coisas, pessoas e mundo deveria ser e, com isso, não conseguir reagir às mudanças e flutuações da realidade. A baixa tolerância à frustração, nesse caso, deve-se à esta percepção limitada e rígida do mundo. Se a pessoa consegue flexibilizar isso, consegue tolerar melhor a frustração. Porém, em alguns casos a não aceitação da realidade por critérios muito rígidos é apenas um sintoma de algum dos outros três fatores acima listados.

    Espero que você, leitor, possa ter uma visão breve sobre o que motiva a baixa tolerância à frustração e que possa, com isso, refletir sobre a sua maneira de perceber o mundo.

    Abraço

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