• 18 de setembro de 2015

    Meu mundo são vocês

     

    – Mas Akim, não vai ter graça nenhuma ir lá agora.

    – Porque não?

    – Ai… o pessoal não vai e daí eu vou fazer o que lá sozinho?

    – Mas você não está indo num lugar que gosta de ir?

    – Sim, eu super adoro ir lá! Gosto muito das atividades e tudo o mais.

    – Então você não poder ir lá “sozinho” apreciar o que você aprecia?

    – É meio estranho não é?

    – Não sei, é para você?

    – É

    – Só tem sentido com os amigos?

    – Sim.

    – O que você gosta, então, é desse lugar e da atividade ou de estar com os amigos?

    – O segundo pelo jeito, o que é estranho.

    – Porque?

    – Porque eu digo que “eu” gosto de ir lá sabe?

    – Sim… vamos explorar isso?

    – Sim.

     

    Seres humanos são gregários. Isso significa que a companhia de outros seres humanos nos faz bem, é algo importante para nossa saúde mental. Porém, quando o desejo pela companhia pode tornar-se um problema ao invés de uma qualidade de saúde mental?

    Como eu já disse precisamos de contato humano. Pesquisas mostram que bebes privados de contato humano tem muitos problemas cognitivos e até desenvolvem uma incapacidade de se relacionar no futuro. Outras demonstram que a solidão é um fator positivo para a depressão e outras doenças mentais. Assim o contato com outros seres humanos é um fator importantíssimo para a saúde mental.

    Porém é exatamente compreendendo que o contato com outros seres humanos faz bem “ao ser” que podemos começar a compreender como ele, também, pode ser nocivo. Ocorre que o contato do qual precisamos detém certas qualidades que propiciam o desenvolvimento de conversas agradáveis, relacionamentos saudáveis, melhoram a saúde física da pessoa através da liberação de hormônios em nosso corpo. Porém, quando as relações assumem um papel de estressores o mesmo contato que cura pode adoecer.

    Vemos isso em relacionamentos tóxicos, por exemplo. Também vemos isso em pessoas que tem necessidade de lugares privilegiados dentro de relacionamentos e naquelas em que a opinião dos outros imobiliza o seu próprio desenvolvimento pessoal.

    Quando o contato com outros seres humanos pressupõe a necessidade de ter um lugar de destaque as pessoas não estão focadas na qualidade do contato, mas sim no status que adquirem nas relações. Assim, embora populares essas pessoas não desfrutam das relações, mas usam e sentem-se usadas nelas e por elas. As relações tornam-se fontes de estresse à medida em que não devem ser aproveitadas, mas sim administradas e controladas. Qualquer atitude deve ser pensada em relação a perder ou ganhar status e poder nas relações.

    Este tipo de pessoa, em geral, tem muito medo em abrir-se e procura um status elevado como meio de não precisar fazê-lo. Seu lugar privilegiado é um escudo que a defende dela própria e – ela espera – das decepções que poderá vir a sofrer com relacionamentos. Por paradoxal que possa parecer, seu medo de relações é o que promove a sua força para criar esses vínculos controlados por ela. Tudo o que tememos queremos controlar.

    No segundo caso a pessoa dá tanta importância à opinião de terceiros e seu medo – muitas vezes confesso – de perder contato é tão intenso que ela abre mão de si própria em relação aos outros. É o caso de começar a sorrir ao fazer coisas que não deseja e mais tarde culpar os outros por causa disso. Assim a relação torna-se um verdadeiro estressor pois a própria pessoa passa a avaliar todo comportamento como “será que ele(a) vai gostar ou ficar chateado com isso?”. Esse raciocínio barra o aprendizado pessoal assim como inibe a pessoa e faz com que o contato seja ansioso ao invés de prazeroso.

    Neste caso é importante estabelecer a importância de “um” na relação. Se o outro é importante para você, porque você não é importante para o outro? Ou então na versão que mais gosto: a pessoa gostou de você do jeito que era, continue sendo quem você sempre foi. Assim sendo é importante estabelecer este patamar dentro do qual abrir mão de algo ou mudar planos deva se tornar algo negociado em prol do bem estar da relação e não uma rotina para satisfazer o medo de perder alguém.

    Abraço

     

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