– Se arrependimento matasse.
– Porque?
– Eu decidi que faria o curso.
– E?
– Eu fui lá, mas não me senti muito bem com as pessoas e tudo o mais.
– O que aconteceu?
– Ah, teve muito discussão sobre os pontos que a palestrante falou.
– Sei, um ambiente meio hostil?
– Sim, teve gente que foi embora e tal.
– Entendi, mas e o conteúdo do curso era bom?
– Ah sim, aprendi bastante.
– E você foi lá para que? Sentir-se bem com as pessoas ou aprender?
– A segunda né?
– Então porque se arrependeu?
– É…
Tenho acompanhado muitas pessoas reclamando das escolhas que fazem, porém, em muitos desses casos percebo que a escolha não foi tão ruim, ou nem sequer foi ruim, constituindo-se numa boa escolha. O que faz essa mudança?
A pergunta mais importante nesse caso é: como avalio minha escolha? Dizer que algo é bom ou ruim, que uma escolha foi bem ou mau feita é algo que só pode vir mediante a parâmetros. Dependendo do parâmetro empregado para avaliar uma escolha ela pode ser ótima ou péssima ao mesmo tempo, mas como isso é possível?
Um parâmetro muito comum que tenho visto em consultório são as emoções. Em geral quando a pessoa sente-se “bem” após a escolha ela a avalia como positiva, e quando não sente-se bem ou quando sente-se “mal”, avalia como negativa. Porém as emoções nem sempre são critérios adequados para avaliar uma escolha, na verdade quase sempre não são.
Nem sempre uma escolha nos faz sentir “bem”. Esse é o motivo pelo qual usar as emoções como um critério para determinar a validade de uma escolha não é adequado. Muitas vezes dar um limite, parar uma atividade ou escolher uma profissão não são escolhas “fáceis” que vão trazer, de imediato, uma sensação de bem-estar. Porém, dizer isso não quer dizer que ela seja uma escolha errada.
Avaliar as escolhas como boas ou ruins tem mais a ver com a intenção da escolha e com os resultados desejados com ela do que com o como nos sentimos em relação à nossa escolha. Canso de ouvir, por exemplo, queixas de pessoas envolvidas em relações tóxicas que me dizem: “na hora é bom estar com ele (a), mas depois é horrível sabe? O bem que eu sinto não vale depois”. Este é um belo exemplo de como sentir-se “bem” pode ser uma “má” escolha.
Porque tendemos a usar as emoções, então, para avaliar?
Muitas pessoas não sabem com clareza definir o que querem ou tem dificuldade em suportar aquilo que desejam. Estes dois são os motivos básicos que levam elas à buscarem nas escolhas uma emoção positiva que as acalente. A pessoa que deseja que sua escolha lhe traga tranquilidade pessoal é porque, em geral, não a tem por si. Não saber definir aquilo que deseja é uma das maneiras de buscar na escolha – que se torna ansiosa – a tranquilidade. Se der tudo certo a pessoa fica bem, se não ela larga a escolha e sai correndo.
Outras pessoas até sabem definir aquilo que desejam, porém no momento em que a realidade exige delas, não conseguem suportar. Em geral este tipo de pessoa busca por um comodismo nas escolhas, ou seja, escolhas que possibilitem à ela criar um determinado tipo de rotina que não as tirem do seu “quadrado”. O que é ser exigido? Às vezes ter que dizer à alguém “sim, eu vou continuar com isso”, outras pode ser ter que insistir no seu sonho ou então o fato de ter que admitir não saber como fazer o que se quer e ter que aprender.
Quando, por outro lado, conseguimos traçar metas adequadas e claras. Aprendemos a sustentar nossas escolhas mesmo diante da adversidade – seja ela qual seja – podemos sentir vários tipos de emoções sem julgar nossa escolha como boa ou ruim por isso, mas sim pelos resultados que está nos trazendo.
O único adendo com isso é quando a emoção é um fator que está incluso na meta. Por exemplo, muitas pessoas resolvem deixar um emprego em que ganham muito por outro que ganham pouco, porém a sensação de bem-estar e de tranquilidade é o seu pagamento. Neste tipo de caso a presença da emoção positiva se torna um fator sim de avaliação se a pessoa está ou não fazendo a coisa certa. Se ela muda sua rotina e continua sem sentir esta emoção pode ser que deva fazer mais alterações em sua rotina.
Espero que isso ajude você a refletir sobre como avalia suas escolhas.
Abraço