• 29 de setembro de 2015

    Impulsos, quem não tem?

    – Mas Akim, o que você queria que eu fizesse?

    – Bem… pense no que você fez, repita para mim resumidamente.

    – Resumidamente… eu mandei minha namorada à merda porque ela usou um tom de voz que eu achei que era para falar de algo ruim de mim.

    – Quer dizer, ela falou “meu amor” com um “tom” e recebeu um “vá a merda”. O que você gostaria que eu te dissesse para fazer nessa situação?

    – Ai… tá… eu sei que eu exagerei…

    – Exagerou? Você não apenas fez isso como foi extremamente rude!

    – Ah meu!

    – Ah meu, uma pinóia… vai assumir ou vai dar uma de “nem foi tão assim” de novo?

    – (suspira) Tá… tá certo você… fiz merda.

    – Ótimo… o que você tem que fazer agora?

    – Pedir desculpas e lidar com meu medo do que ela vai me falar né?

    – Muito bem! Isso mesmo… que outra atitude você poderia ter frente ao “tom” dela?

    – Sei lá, poderia ouvir antes de fazer qualquer coisa pelo menos…

    – Muito bom.

     

    Quem nunca sentiu a vontade de xingar alguém ou de ser rude? Quem nunca sentiu vontade de estapear alguém que se manifeste? Fazendo uma paródia: quem nunca sentiu um impeto bestial, que atire a primeira pedra! Porém, existe uma diferença entre sentir e fazer, não existe?

    Pessoas impulsivas, em geral, tendem a culpabilizar o impulso pelos atos que comete. É como se o ato de sentir o impulso fosse o responsável pelo ato de realizá-lo, porém isso não é verdade. Existe uma distância entre sentir um impulso e agir.

    O impulso nasce quando o organismo percebe algo que entende como um “motivo” para a ação. É a primeira reação que é produzida e é baseada numa leitura rápida da situação. Esta leitura é a “via curta” neurologicamente falando, onde a informação não chega a ser processada pelo córtex, nem sequer pensamos nela, trocando em miúdos. Quando assumimos esta “proposta” de ação do organismo estamos agindo de maneira impulsiva.

    Todos nós temos impulsos, ele não é algo que podemos “escolher” não ter, nossa biologia está preparada para agira assim. Por outro lado, ela também está preparada para frear este impulso. Enquanto podemos dizer que a sensação é automática, a ação não é totalmente. Os músculos que usamos para agir são estriados esqueléticos, ou seja, músculos sob a ação da consciência e da vontade. Com base nisso é possível, mesmo tendo um impulso, impedir a ação, modificar a ação ou ainda, refletir sobre a necessidade de agir.

    Se você se acha uma pessoa impulsiva, compreender que seus impulsos podem ser contidos é o primeiro passo para ter uma vida emocional mais rica. Em geral as pessoas impulsivas cultuam a crença de que seus impulsos são incontroláveis, dizem: “não sei o que me dá, quando vi, já fiz”. Ora, não sei é diferente de “não parei para perceber” que, em geral, é o que ocorre de fato com pessoas impulsivas. Se ela consegue perceber a emoção, consegue perceber o que disparou a emoção, o que ela precisa é treinar-se para perceber os “gatilhos” de impulso.

    Em segundo lugar se torna importante refletir sobre o que causou a ação e pensar em vias alternativas para representar aquilo. Por exemplo: digamos que a pessoa perceba que quando é contrariada ou frustrada sente-se com muita raiva e logo esbraveja. Podemos levantar várias reflexões: qual o seu problema em ser contrariada? Você tem a expectativa de que as pessoas não podem fazer isso (se sim, precisa revê-las não é?)? Que outro tipo de comportamento você pode ter ao sentir-se contrariada (que sejam mais úteis)?

    Permitir-se agir assim é o terceiro ponto. A arrogância aparece quase que invariavelmente – junto com a culpa, mais tarde – em pessoas que tem um comportamento impulsivo como uma forma de defender-se dos resultados que tem na vida pessoal. Ao invés de assumirem que se comportam de maneira inadequada, tendem a projetar a culpa e os resultados em supostos defeitos dos outros.

    Este tipo de atitude não ajuda e apenas torna ainda mais forte o comportamento impulsivo, por julgá-lo como “certo” no final das contas. Permitir-se se dizer “fiz errado” e assumir responsabilidade sobre isso “vou mudar” são ações importantíssimas para trabalhar com a impulsividade. É o que a maior parte dos seres humanos faz, contemos nossos impulsos e encontramos uma via de expressão mais adequada ao que queremos e à situação.

    Abraço

     

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