• 9 de outubro de 2015

    Fugir de si mesmo

     

    – Mas está tudo bem esses últimos dias.

    – Sério?

    – Sim.

    – Que coisa boa… eu imaginava que o fato de você ter terminado na última semana pudesse ter alguma influência em sua vida.

    – Ah bem… não na verdade. Eu só tenho ficado mais em casa porque é bom sabe?

    – Sei… o que mais você não tem feito nesses dias?

    – Bom… não fui tanto para a aula e não tenho estado tão atento… mas tipo, é normal a gente ficar cansado da rotina não é?

    – Também é normal ficar triste depois de um término e ficar sem motivação para seguir sua rotina.

    – (ele me olha durante um tempo) Mas não sei se quero falar disso.

    – É claro que não quer. Quer me garantir que está tudo bem. Quem de fato você está querendo convencer?

    – Eu mesmo né?

    – Eu aposto que sim.

     

    Muitas vezes falamos que estamos fugindo de algo que sabemos que precisamos fazer, de algo que nos incomoda ou em aceitar alguma característica, emoção ou pensamento em nós. Porque fazemos isso?

    É óbvio que várias são as razões pelas quais fazemos isso. Uma delas é quando não conseguimos aceitar e/ou lidar com aquilo que nos incomoda. Fugimos de nós ao perceber, por exemplo, uma característica que não gostamos ou não queríamos ter em nós mesmos. Uma vez que percebemos esta característica, arrogância, por exemplo, podemos passar a tentar evitar de pensar no tema, evitar situações que nos remetam à ela ou simplesmente racionalizar dizendo algo como “quem não é?”.

    A fuga daquilo que percebemos tem a função de manter o que foi percebido inconsciente. De certa forma é uma espécie de proteção contra o susto que levamos ao ter a percepção. Para compreender isso é importante lembrar que nem sempre as “ameaças” vem só de fora, muitas vezes a ameaça é sentida dentro de nós na forma de pensamento, emoção ou percepção.

    Por exemplo, no caso de alguém com uma auto imagem muito forte perceber que muitos de seus comportamentos estão ali para protegê-la da sensação de fraqueza que sente quando está numa relação. Esta percepção pode ser muito dura para ela, a diferença entre o que ela percebeu e a sua auto imagem é grande e ela pode desejar afastar-se disso. Neste momento ela começa a esquivar-se e fugir.

    Existem pessoas, no entanto, em que a fuga é um comportamento crônico. Elas aprenderam que “não ligar” ou esquivar-se de suas percepções pode ser algo útil para manter uma sensação falsa de “tranquilidade” – ou seja, sentem-se tranquilas enquanto ninguém fala dos seus defeitos – nem ela. Assim enquanto ela gasta sua energia fugindo de suas percepções e dos avisos dos outros e do mundo sobre o que ela precisa ver em si própria o seu auto conhecimento e as possibilidades de mudanças positivas vão diminuindo.

    Como você foge de você mesmo?

    Abraço

    Comentários
    Compartilhe: