(ELE) – Você não está me ouvindo!
(ELA)- Eu estou, você é que não está!
T – Ninguém está ouvindo ninguém. O que será que impede vocês de se ouvirem?
(ELE) – Eu não consigo aceitar a falta de respeito dela!
(ELA) – Eu…
T – Calma… agora deixe eu, pelo menos, ouvir. De que maneira ela te desrespeita?
(ELE) – Ela não atende meus pedidos, nunca quer sair só comigo, é sempre um amigo ou amiga!
T – Ok… Você se sente como nisso tudo?
(ELE) – Me sinto como se não valesse nada para ela.
T – E você gostaria de sentir-se como?
(ELE) – Como se ela gostasse de mim… se eu fosse importante!
T – Acredito que ela deseje algo muito próximo disso, estou errado?
(ELA) – Não, nem um pouco…
T – Mas também imagino que ele não saiba como fazer você sentir-se assim.
(ELA) – Sim.
T – Ok. Ambos tem desejos parecidos. Podemos brigar aqui e determinar culpados ou começar a criar as maneiras para ambos sentirem-se bem na relação, o que acham?
Vivemos em tempos difíceis. Vejo que, ultimamente, temos tido poucas pessoas de opinião no nosso país, mas muitas pessoas de polêmica. Divididos em lados antagônicos não conseguimos ter a base de uma discussão: concordar com o tema que está sendo discutido. Lançar polêmicas é algo bom num determinado momento, porém num segundo ela não é mais necessária, é hora de estruturar um pensamento e organizar o rumo de uma ação. Porém, isso me parece impossível quando a intolerância é a emoção que impulsiona as ações. A intolerância parece sondar todas as camadas da sociedade em todos os âmbitos possíveis. O que podermos fazer em relação à isso?
Vou partir de um pressuposto super simplista, brega e bobo, porém, um pressuposto que eu imagino que possa nos ajudar: quando as pessoas estão discutindo e brigando muito é por dois motivos: o primeiro porque não se escutam e o segundo porque ambas querem a mesma coisa (ou algo muito próximo), porém possuem critérios diferentes em relação ao como esta coisa é criada ou percebível. Piegas não? Talvez.
O fato é que quando dois lados estão tensos, este é o pior cenário possível para qualquer discussão (é só pensar numa DR com o conjugue). Assim, quando há tensão o que ambos os lados procuram é assegurar logo as suas necessidades. Aí começam as brigas e é aí que digo que ambos querem as mesmas coisas. Canso de ver, no consultório, casais brigando um dizendo para o outro: “me respeite”. Duas coisas são óbvias: os dois não se ouviram e os dois não sabem como fazer para dar e receber respeito um do outro.
Aí que precisamos inicialmente ouvir. Ouvir o que cada lado precisa dizer, os anseios e necessidades de cada um precisam estar claros à mesa. Além disso é importante – talvez mais importante ainda – compreender como a pessoa deseja que aquilo seja atendido. Ou seja: uma coisa é dizer que quer “respeito”, outra coisa é informar que “respeito” significa ouvir as reclamações que a pessoa tem do trabalho, não rir dos desejos dela e nem dos livros que gosta de ler. A segunda parte é o “como” ficaremos sabendo que o tal respeito foi atingido. A maior parte das pessoas, quando pergunto isso, não sabem como dizer ou então, tem critérios que são tão infantis que quando elas dizem o que querem e como querem terminam por se envergonhar.
Outro ponto é o seguinte: assegurar de que se deseja uma convivência. Temos um mundo que, cada vez mais, cria facções. Como isso tudo deve conviver? Ou entramos em acordos ou entramos em guerra – infelizmente creio que temos ido mais em direção ao segundo que ao primeiro. O verdadeiro ouvir só ocorre quando realmente desejamos ter uma relação. Quando não se deseja isso o ouvir é de péssima qualidade porque traz ironia e desvalorização daquilo que é dito. Nestes termos não existem acordos.
A raiz da intolerância é a percepção da diferença como algo que pode me causar dano ou que deve me causar nojo. Nos tornamos intolerantes, aprendemos a ser intolerantes com algo ou alguém. O problema é que intolerância gera repulsa e nojo, desejo de higienizar e de afastar. Quanto mais a intolerância em todas as suas manifestações ocorrer, mais as relações irão se deteriorar porque o medo de ser “higienizado” irá prevalecer. Este é o medo de todos na sociedade de consumo, diga-se de passagem: a saída derradeira e completa da prateleira de compra, mas não somos produtos, somos gente.
Abraço
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