– E como que eu vou saber que é isso o que ela quer?
– Não sei.
– Então como que eu vou fazer?
– Porque não saber se ela quer ou não isso o impede de fazer o que acha que tem que fazer?
– Ué… porque eu quero que de certo.
– E já faz um bom tempo que você está querendo isso… começando a estragar tudo (de novo) esperando esse “certo”.
– É… mas sei lá… não adianta ir na incerteza.
– Não, mas ficar parado também não. Ao invés de dar o “certo”, porque você não vai com o que tem?
– Pode não ser suficiente.
– Pode, mas ainda assim é o que você tem.
– Pode…
– (Interrompo o cliente) Pode um monte de coisas, mas a pergunta importante mesmo é: você pode dar o que tem, de verdade? Ou vai ficar fugindo do seu próprio desejo?
Muitas pessoas procuram pela resposta certa em seus desejos. Obviamente todos queremos realizar aquilo que nos propomos, porém existe uma maneira de pensar que bloqueia a realização desse desejo que é quando tudo deve estar sob controle. A resposta certa pode nunca surgir, mas o pior é que na maioria das vezes ela não é necessária.
Muitas veze nosso desejo de que “tudo dê certo” pode assumir a forma do pensamento: “não quero que nada dê errado”. Existem muitas variações, mas a essência é a mesma: afastar a possibilidade de fracasso. Nesse momento, nosso cérebro começa a pensar em todas as possibilidades que existem de que aquilo que queremos não se concretize. E então, a paralisia começa.
O processo ocorre porque tudo pode dar errado. Em outras palavras sempre existe um risco de que mesmo o negócio mais certo dê errado. Pode ser uma chance pequena, mas existe. Quando vamos para o campo das relações humanas e dos projetos de vida esta possibilidade aumenta e torna-se perene. Temos então um paradoxo: desejo agir e só agirei quando tiver plena certeza de que nada dará errado e sei que esta segunda cláusula é impossível.
Frente à isso a pessoa passa a achar várias e várias desculpas – disfarçadas, obviamente, de muito pensar, de reflexões e de um “excesso de realidade” (porque é uma realidade que sempre prova um só ponto) – para não agir. A questão que trago, porém é que isso tem a ver mais com a auto estima da pessoa do que com as possibilidades reais da coisa dar certo ou errado. Como assim?
No começo do post disse que o desejo de que “tudo dê certo” pode assumir a estrutura “não quer que nada dê errado”, para que isso ocorra, uma das condições é que a pessoa não tenha fé nela mesma. Se tivesse, porque iria pensar, logo, no que pode dar errado ao invés de pensar, por exemplo, naquilo que são as condições necessárias para que seu sonho se realize (percebe que isso é diferente de “que tudo dê certo”)?
A baixa auto estima tem como um componente fundamental uma auto confiança pequena ou distorcida. Quando isso ocorre a pessoa tende a refletir seus movimentos não como a expressão de seu desejo, mas sim como provas que irão medir se ela é adequada, digna ou não. Frente à esta percepção binária da vida (existem coisas além do “fracasso – sucesso”) a pessoa sente-se muito pressionada (quem não?) e termina por desejar afastar aquilo que teme: a comprovação de que ela é um fracasso. Porém, para que ela deseja afastar isso, em primeiro lugar precisa se visualizar dessa forma ou, no mínimo, ter dúvidas sobre o seu valor pessoal.
Neste caso é muito mais importante saber qual o seu valor e que você tem para oferecer agora do que se você é perfeito para nunca ter nenhum problema (já adianto, você não é… ninguém é, ninguém nunca foi). Ao invés de procurar a resposta certa, pense: qual a reposta que tenho para dar? “Ah, mas ela não é tão boa quanto poderia ser?” Sem problemas, dê do mesmo jeito e vá melhorando ao longo do tempo.
E aí, certo ou errado?
Abraço