• 16 de dezembro de 2015

    Tédio

    “O tédio é um grande começo

    Observe seu entusiasmo pela vida…
    Muito poucas pessoas percebem que estão entediadas, mas elas estão absolutamente entediadas.
    Todos sabem e percebem, exceto elas mesmas.
    Saber que se está entediado é um grande começo.
    O homem é o único animal que sente tédio, mas isso é um grande privilégio.” (Osho)

     

    O tédio é um sentimento importantíssimo e muito mal compreendido.  Você sabe como lidar com o tédio em sua vida ou tentar escapar dele dando uma “saidinha”?

    Vivemos numa crise de tédio. Porém, não me entenda mal, o problema não é que as pessoas sentem-se entendiadas, mas sim que não existe mais a permissão para sentir o tédio. Este sentimento é visto como algo errado pelas pessoas hoje em dia? Por que está entendiado? Vamos sair e agitar, fazer alguma coisa!

    Ora, o problema do tédio é justamente perceber que não se está fazendo o que se quer  ou que não existe nada para fazer que lhe mova a alma. As pessoas tem compreendido o sentimento do tédio em relação ao entretenimento, “não ter nada para fazer”, como um simples sinônimo de falta de atividades ou de atrações para ir. Esta percepção é errônea porque o tédio não tem relação com falta de hobbies, muitas vezes, inclusive a presença constante deste sentimento é, na verdade, sintoma de um processo depressivo.

    Ao se confundir o tédio com falta de hobbies ou entretenimento deixamos de lado a verdadeira funcionalidade deste sentimento que é informar à pessoa que sua vida não está andando de uma maneira à deixá-la auto-motivada. Temos motivações básicas, como comer, poder e moradia, para algumas pessoas estas necessidades bastam para mover a vida, para outras não. Existem pessoas, por exemplo, que precisam sentir que estão realizando algo, concretizando uma obra – seja ela qualquer. Se uma pessoa como está não está fazendo algo em sua vida que lhe proporcione isso, ela pode sair nas melhores baladas, ver os melhores filmes, ler os melhores livros e fazer as mais espetaculares viagens, nada disso bastará porque ela precisa realizar algo.

    Afirmo que vivemos uma crise de tédio por causa deste fator. O tédio tem a ver com nossa existência. Pessoas auto motivada dificilmente sentem tédio e quando o sentem tratam de realmente vivê-lo. Não se satisfazem em dar uma “saidinha” para aliviar porque sabem que esse não é o problema. Este está localizado na pergunta existencial de “o que quero para a minha vida”, quando alguém auto motivado sente tédio começa a rever a sua vida, tentar perceber o que, de fato, está lhe faltando existencialmente ao invés de abrir um site de bares e baladas para “ver se me descontraio”.

    Permita-se ficar entediado. Permita-se dizer “não tenho nada para fazer”, “não sei o que fazer”, “não sei o que quero da vida”. É óbvio… não será muito prazeroso se você realmente se permitir chegar onde precisa chegar que é no fato de que você está no leme do barco e sem direção traçada. Não procure sair do tédio, entre nele. Esta é a necessidade que nossa sociedade não nos permite mais: entrar no tédio e ver onde você está desperdiçando sua vida para conseguir enxergar onde contruí-la.

    Não se engane: ter um monte de opções de “coisas para fazer” não significa que você está tendo uma vida produtiva, ativa e interessante (para você mesmo). Óbvio dizer que se você faz um monte de coisas, socialmente você está perfeito, porém o como dizem que a vida é para ser vivida pode, simplesmente, não ser o que você quer, pode não ser o como a sua vida é para ser vivida por você. A pessoa pode ter poucas atividades, aparecer pouco na web e ser “simplória” e sentir-se plenamente produtiva, ativa e feliz. A questão é: sua vida está sendo vivida de acordo com “como é para ser vivida”?

    Não existe um manual de como fazer isso, porém, a sensação de que sua vida está “nos trilhos” é longe de ser difícil de alcançar, vejo no consultório as pessoas simplesmente me dizem: agora sei o que quero. A integridade é uma sensação de completude tão profunda que não há como dizer “será que é?”. Permita-se entediar-se, nada há de errado com isso. Deixe seu tédio guiar você para você mesmo.

    Abraço

     

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