Este filhote de rinoceronte me inspirou à escrever este post. Ele tem (bem) menos da metade do tamanho de um adulto e estava com sua mãe à beira de um lago onde foram atacados por um rinoceronte que desejava a mãe dele. O rinoceronte adulto atacou várias vezes a mãe e ele ia correndo atrás até que, de repente, ele atacou o adulto macho. O que aconteceu? O macho deu dois passos para trás, um tanto de lado ainda por não ter visto (ele é muito baixinho mesmo) o filhote. O filhote atacou de novo e de novo até que o macho foi embora, ele correu do filhote. Porque?
Rinocerontes são um dos animais mais resistentes que tem, sua pele é densa e forte e todo o seu corpo parece uma armadura. Sua arma, o chifre serve para atacar o único ponto vulnerável nessa criatura: a barriga. Ora, vendo a foto dá para ver que o “chifre” do filhote não é exatamente uma mortífera espada samurai, porém, ele com “todo seu tamanho” tem o alvo vulnerável sempre acima de sua cabeça. Em outras palavras, o fato de ser baixinho faz com que o rinoceronte filhote sempre acerte a barriga vulnerável do adulto.
O que isso tudo tem a ver com medo, raiva e potência?
Todos sentimos medo, a raiva é uma emoção que, quase sempre, está associada ao medo. A função do medo é nos fazer cautelosos para nos proteger de um perigo potencial. Como, por vezes, a melhor defesa é o ataque a raiva assume sua função de nos fazer atacar. Daí que se o ataque é bem sucedido ele gera uma sensação de potência frente àquilo que nos aterrorizava à princípio.
Quando se diz em usar a raiva de maneira positiva é sobre isso que se está falando. A noção de que temos que exteriorizar a raiva através da catarse, nem sempre é proveitosa. Para algumas pessoas ter a percepção da raiva é importante e, nestes casos, a catarse é funcional. Porém para pessoas que já conseguem perceber e sentir a raiva deve ser empregada como uma força que ajuda a pessoa a vencer um determinado desafio.
O medo é o que nos faz conscientes do desafio. Ao sentirmos medo de algo é importante ver qual o perigo que estamos lidando e o que podemos fazer para nos proteger. Uma vez que tenhamos esta consciência a raiva é a energia que nos faz agir.
O problema de muitas pessoas é desejarem vencer os desafios sem vivenciar este ciclo de medo e/ou de raiva. É óbvio que a intensidade dessas emoções pode ser muito variável, uma situação é viver o desafio de uma final de campeonato, outra, como no caso do rinoceronte é lutar pela vida sua e de sua mãe. Porém essas emoções ocorrem no sentido de suas funções: proteção, planejamento e ação.
Os problemas podem ocorrer quando a pessoa sente o medo e permite-se ficar paralisada por ele. O medo tem a função de proteção e, embora a paralisia possa ajudar em algumas situações, ela, de forma geral (e para o nosso mundo) atrapalha. Sendo assim o medo acaba tornando-se um inimigo. Outra situação é a negação do medo de forma que a pessoa age sem prudência e reflexão o que também pode levá-la ao fracasso.
A raiva por sua vez é uma emoção muito mal compreendida pelo seu potencial destrutivo. No entanto, a destruição está sempre à serviço da proteção da integridade do organismo. É certo que muitas vezes esse “parâmetro” está sensível demais, porém a raiva é fundamental mesmo assim. Os problemas com a raiva estão na vergonha, medo ou culpa em senti-la que podem ocasionar num fim desastroso que é a negação da necessidade de se defender ou de agir sobre o mundo. Neste caso a pessoa percebe a ameaça porém se convence de que não precisa fazer nada contra ela.
Estes são exemplos de dinâmicas que impedem que a pessoa entre em contato com o medo e com a raiva e se defenda. E porque isso é importante?
Bem estas duas emoções junto com o nojo estão entre as mais antigas e mais fortes no ser humano. Facilmente reconhecemos raiva e medo nos outros e em qualquer animal. Elas são as emoções que organizam o nosso senso de sobreviver neste mundo. Quanto mais alinhadas e funcionais elas estão, mais a pessoa sente que pertence à este mundo e que tem forças para sobreviver. Isso é a sensação de potência.
A potência, ou o poder, para se defender de perigos é a base da auto confiança que, por sua vez é a base da auto estima. Assim aprender a lidar com o medo e com a raiva e usar estas emoções à seu favor são fatores fundamentais para que você tenha uma boa auto estima e sinta-se merecedor do seu lugar neste mundo. O nosso querido rinoceronte, com certeza tem esta sensação!
E você, quais batalhas o aguardam?
Abraço