• 4 de janeiro de 2016

    Festas (ou guerras) de fim de ano

    – Akim… estou pensando de nem ir.
    – Porque?
    – Ah, vai estar toda a parentada lá e eu não estou afim de interagir.
    – Mas está afim de ir falar com a sua mãe e pai e de ficar bem com eles né?
    – Sim, mas…
    – Mas?
    – Mas sei lá… é difícil.
    – Claro que é, a pergunta é: como você vai? Com que “roupa” vai?
    – É… eu sei.

    Sartre disse que o infernos são os outros. Já na filosofia oriental temos que para onde vamos carregamos a possibilidade de criar nosso inferno ou nosso céu. Afinal de contas, o que são os outros: anjos ou demônios?

    A verdade frustrante é que nem um nem outro. Os outros são, simplesmente, os outros. Nós mesmos, para as pessoas com quem vivemos, somos “um outro”. Assim, você é, ao mesmo tempo “você” e um “outro”. Porém, nos percebermos em terceira pessoa é um desafio mesmo para quem pratica este nível de percepção. O que essa percepção tem para oferecer? Refletir sobre como você é percebido enquanto um outro lhe ajuda a perceber o seu próprio lugar nos círculos sociais em que vive.

    Festas familiares são um ótimo lugar para testar este tipo de perccepção e as festas de final de ano são mais interessantes ainda. Ocorre que nas festas familiares a pessoa, como no exemplo acima, vai, geralmente, com suas roupas passadas de filho ou filha. Junto com isso as festas de final de ano tem um apelo familiar no qual esta hierarquia se evidencia ainda mais.

    Quando fiz a pergunta “com que roupa vai?”, a ideia é fazer a pessoa pensar no seu papel social. Muitas pessoas mudam completamente o seu comportamento quando estão na presença dos pais, por exemplo. O papel que dão para si no dia a dia é retirado e colocam a roupa de filha ou filho “imaturo”. O conceito de “filho imaturo” é aquele filho que ainda é filho de acordo com o modelo dos pais. A pessoa ainda não sabe como ser filho do seu próprio jeito. Quando estamos num momento em que a hierarquia familiar é exacerbada e em que estamos numa festa de família onde estas dinâmicas emocinoais se evidenciam ainda mais é que o confllito entre o que as pessoas pensam que são e o que elas conseguem ser com os outros aparece de formas, muitas vezes, destruidoras.

    Festas são momentos estressantes por nelas sempre existe uma expectativa e um contexto emocional que precisam ter resposta da pessoa. Como é voltar para a casa da família depois de passar o ano todo na faculdade? Como é aturar pessoas que você não gosta muito? Bem, sempre começo perguntando: “com que roupa você vai?” Isso pelo fato de que a “roupa” é a identidade da pessoa e é com essa identidade que ela irá à festa. Desta maneira, não adianta nada dizer-se que vai dar limites ao primo chato se você não vestir a roupa de quem faz isso.

    Você é um outro, então você pode ser o seu próprio inferno se não consegue passar a imagem que tem de você mesmo. Isso é uma questão de maturidade, ou seja, de conseguir expressar aquilo que você diz ser e não de ficar esperando os outros te respeitarem pelo que você gostaria que eles vissem em você. Ir à uma festa de família, nesse sentido, é quase como ir à um workshop de auto conhecimento. É lá, na prática que você verá se consegue vestir roupas diferentes e se divertir com a situação ou ainda irá vestir as mesmas roupas velhas e sofrer no canto esperando alguém te tirar para dançar.

    Abraço

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