• 13 de janeiro de 2016

    Vingança

    – Mas agora estou me sentindo meio mal sabe?

    – Sim, porque será?

    – Não sei direito… parece que não resolvi a questão sabe?

    – Claro, de fato não resolveu.

    – Mas… ele ficou mal também!

    – Sim, mas quem disse que isso “resolve a questão”? Qual é a questão que tem que ser resolvida?

    – Não sei…

    – Por isso está se sentindo meio mal.

     

    Vingança. Um dos temas mais antigos da humanidade remetendo ao assassinato de Abel por Caim tem muitas sutilezas. A manutenção da raiva e a culpa após a vingança são alguns dos temas mais comuns, por que isso acontece?

    A emoção que precede a vingança é a raiva. Alguém que te roubou no jogo, uma pessoa que armou uma cilada para você ou simplesmente o término de um namoro que você se recusa a aceitar que acabou podem ser os temas que despertam a raiva, ou seja, o impedimento, por alguém, da sensação de bem-estar ou o ato de alguém lhe causar dor ou algum tipo de mal-estar.

    Na ótica da vingança, o mal feito deve ser retribuído. Aquele que deseja vingar-se entende que o mal que lhe foi causado é uma espécie de dívida que é adquirida pela pessoa que lhe prejudicou ao causar-lhe mal. “Ele fez isso comigo” ou “ele merece isso” são as frases que se adequam à este tipo de pensamento.

    Ainda nesta linha de raciocínio a dívida deve ser paga na “mesma moeda”, ou seja, na dor física ou psíquica (ou melhor ainda: ambas). Assim o que foi prejudicado passa a bolar uma estratégia que visa criar esta situação desconfortável para quem lhe causou dor. O entendimento é que como se trata de uma dívida, o momento em que ela for “paga” a pessoa que foi vitimada sentir-se-á bem porque a relação entre ambos irá estabelecer um “equilíbrio” baseado na dor mútua.

    No entanto, quem é vitimado esquece de “verificar” com o vitimador se ele também entende que está “devendo” algo para o vitimado. Isso implica que quando o vitimador “sofrer as consequências” dos seus atos, ele pode, simplesmente, achar que foi vítima também e assim o ciclo se reinicia e este tentará causar dor para quem lhe fez sofrer.

    A vingança não funciona porque o raciocínio dela é imaturo. Causar dor em alguém não garante que você sabe se proteger de uma nova agressão por parte dessa pessoa e nem que essa pessoa não irá lhe causar dor no futuro novamente. A raiva é uma emoção que visa proteger a nossa integridade e não ferir a integridade do outro (salvo exceções extremas como no caso da legítima defesa em que ferir a integridade do outro é a única forma de me defender, mas isso é diferente da vingança).

    Assim quem se vinga, ao final da vingança vê o efeito de causar dor no outro, mas isso não o ensina a se defender. Por este motivo todo o empenho leva à “resultado nenhum” e, por este motivo, geralmente as pessoas sentem-se mal depois de se vingar. Ela causou dor à alguém e não ganhou nada com isso, geralmente ao perceber isso as pessoas se arrependem ou sentem culpa. Também ficam cientes da quantidade de energia que usaram mantendo a raiva daquela pessoa acesa dentro de si quando poderiam ter tomado atalhos muito mais simples e com menos gasto de energia. Pior é quando percebem que além de não terem ganho nada a dor infringida ao outro não valeu à pena porque manter a relação com este outro não vale à pena.

    Este último tema é, inclusive, o ponto central da vingança e da raiva. Por mais paradoxal que possa parecer a vingança é uma maneira estranha que temos de manter a relação com as pessoas. Afinal de contas, para nos vingarmos precisamos manter um tipo de vínculo com o outro. Mesmo sendo um vínculo de raiva e vingança é, ainda assim um vínculo. Costumo pensar que a vingança pode ser, às vezes, uma forma de solicitar que o outro peça desculpas a quem foi vitimado, “ele vai implorar perdão” é, inclusive, uma frase comum de ouvir quando o tema é vingança, mas… será que não existem formas mais simples de fazer isso?

    Abraço

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