– Mas nossa Akim… eu não entendo.
– Não entende o que?
– É que é assim: tem toda essa quantidade de coisas para fazer, porque fazer?
– Como assim?
– Porque fazer tudo isso, quer dizer, exige esforço sabe?
– Sim.
– E porque?
– Porque não?
– Agora eu não entendi.
– Ora, porque não se esforçar para fazer essas “coisas todas”?
– Bom… não sei… o que eu ganho com o meu esforço?
– Nada, quem ganha não é o seu esforço, é o seu desejo. Daí a pergunta: você quer fazer tudo isso?
– Mas é muita coisa.
– Pois é, quer?
O esforço tem sido perdido o seu lugar de virtude e assumido uma conotação negativa em nossa sociedade. Porém é necessário refletir sobre o que o esforço é, de fato e qual a sua verdadeira natureza.
Esforçar-se começou a ser entendido como um problema quando nossa sociedade começa a se tornar consumista. No consumismo o esforço não deve ser do consumidor, mas sim da empresa prestadora de serviço. Comodidade se torna a palavra de ordem, simplicidade, facilidade, acessibilidade são virtudes enquanto esforço começa a soar como algo inadequado.
Contribui para a noção de que esforço é algo ruim a ideia divertida da “vida boa”, o bom e velho hedonismo niilista tão presente nos dias de hoje. Bem, esta concepção nos diz que (1) a vida é para ser “aproveitada” (ou consumida) e isso não deve envolver esforço e sim apenas prazer, (2) que não vale muito à pena esforçar-se, pois tudo é transitório e tão inseguro que o esforço não vale.
Estes raciocínios colocam um “preço” no esforço, ou seja, se alguém deseja o meu esforço que pague por ele. Porém o esforço não é algo para ser comprado e muito menos justificado. Não temos como justificar o esforço porque ele não é um fim e sim um meio.
Nosso corpo anseia tanto por esforço tanto por repouso. Nossa musculatura necessita de movimento, nossa mente de ação. Com isso ele busca aquilo que é importante para ele, esforça-se para conseguir manter-se. Uma vez que aquilo que é desejado é alcançado o corpo busca pelo relaxamento, porém este advém da ação e não da obrigação.
A cultura atual nos colocar o esforço como um erro – a não ser que você seja muito bem recompensado – e coloca a preguiça como uma virtude, a falta de esforço. Porém a falácia repousa no fato de que nos esforçamos para atingir aquilo que queremos, o fim é a nossa recompensa e o esforço é o meio com o qual atingimos isso.
A falácia da “vida boa” que se estrutura em torno do consumismo, hedonismo e preguiça se resolve de uma forma interessante na yoga, por exemplo. O praticante aprende a gostar do esforço, passa a sentir que a contração muscular, o alongamento e até mesmo a dor derivada desta atividade são positivas. O positivo está no resultado de alongamento, força muscular, quietude mental e emocional trazidos pela prática, não no esforço em si, ele é apenas o meio.
O praticante não pergunta “porque me esforçar”, ele já sabe onde quer chegar. O hedonista faz esta pergunta não como uma forma de invalidar o esforço, mas, sim, como uma maneira velada de encobrir a sua própria capacidade de decidir aquilo que quer. Infelizmente esta incapacidade cada vez mais acomete a nossa população que toma nos anúncios midiáticos a solução para os seus problemas.
Pessoas livres que sabem onde empregar o seu esforço são mais difíceis de domar não pelo fato de que querem estar fazendo coisas o tempo todo, mas sim porque sabem quando podem e como, de fato, ter um prazer saudável e pleno.
Abraço
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