Assim como cada pessoa, cada processo de terapia é único. Porém, existem elementos que aparecem quase sempre nos mais variados processos, temas que são comuns à, talvez, toda a humanidade. Quer saber quais??
1. Ninguém está vindo salvá-lo.
Esta frase eu retirei de um livro do Nathaniel Branden. Eu amei ela no momento em que a li e passei a empregá-la sempre. Antes eu trabalhava com a ideia da mesma maneira, porém, esta frase resumiu todo o meu pensamento.
É muito comum as pessoas desejarem que alguém venha salvá-las dos seus infortúnios ou que com a terapia o resto do mundo vai perceber os seus erros e mudar – que é paradoxo da terapia elaborado por Salvador Minuchin: quero mudanças, desde que eu permaneça igual.
Compreender que ninguém está vindo nos salvar é realizar a compreensão da responsabilidade pelos nossos atos. Ou você faz algo com a sua vida ou ninguém o fará, nem mesmo o terapeuta. As sessões são uma atividade de uma ou duas horas semanais quando muito as outras 166 horas da semana são definidas pela pessoa.
Este tema aparece sempre, mais cedo ou mais tarde, como um tema principal ou como um subtema, mas o fato é que em algum momento a pessoa precisa lidar com a sua solidão, que é a condição existencial do ser humano. Somos sós, mesmo quando temos muita gente em volta de nós. Assim, aquilo que é nosso problema permanecerá sendo à menos que façamos algo com isso.
2. O que você quer?
Esta pergunta toca em algo profundo e inexplicável: o desejo. Podemos associar o desejo com motivos, explicações e teorias, mas, no fundo, o desejo, simplesmente, é. Sempre digo aos meus clientes que mesmo que arranjemos motivos que expliquem nossos desejos, ainda assim escolhemos acreditar nestes motivos.
Desejar e lidar com aquilo que desejamos é um tema universal para terapia. Sempre começo meus tratamentos perguntando: o que você quer? Esta pergunta será repetida várias vezes em várias circunstâncias e ela envolve vários problemas interessantes.
Um deles é a percepção de que desejar e realizar são coisas distintas. Muitas pessoas temem e reprimem fortemente seus desejos porque creem que precisam realizá-lo ou acham que se sentirem o desejo não conseguirão dizer “não” para o seu impulso. Outra percepção é a de poder: vou fazer isso porque eu quero e porque eu posso. Longe de ser uma fórmula maquiavélica, esta proposição nos fala sobre a capacidade de desejar e agir assim como o poder de realizar, de fato, um desejo.
Uma terceira questão muito trabalhada em relação ao desejo é o merecimento. Desejar e sentir-se merecedor daquilo que se deseja são elementos distintos. É comum pessoas batalharem muito tempo para atingir um determinado status – seja em que área for – e, quanto mais perto chegam dele, mas medo sentem, sabotam o processo ou simplesmente largam tudo. A relação disso com a auto imagem e com a auto estima é óbvia, quando não se sente merecedor de algo, o desejo não é possível.
3. “Está tudo bem, tenho problemas”.
Todos começam terapia com algum incômodo ou problema. O desejo de vencermos os problemas se confunde com uma batalha contra o problema. Logo começamos a entender que o problema é algo de “errado”, como se não fosse possível termos “este tipo de coisa”.
Um dos temas que gosto de trabalhar – de várias maneiras – com meus clientes é se acalmar em relação ao que está “errado” neles. Embora muitos odeiem isso, percebo como, na medida em que as pessoas relaxam em relação ao fato de terem um problema, elas também aprendem muito mais com eles.
O fato é que na vida sempre teremos problemas. Podem ser grandes, pequenos, simples ou complexos, mas a vida humana consiste em ter vários pontos para serem remendados. Assim, compreender que não há nada de errado com a vida ou com nós cria a percepção de que estamos “apenas” vivendo a nossa história. Há uma tendência das pessoas passarem a gostar mais de aprender novas maneiras de agir – ao invés de “resolver problemas” – quando percebem que aquilo que está acontecendo é a história delas, é a maneira pela qual elas serão “heróis”, no sentido mitológico da palavra.
Aqui também gosto sempre de enfatizar que a questão não é ser perfeito na resolução de algo, mas sim de ter consciência do que se está fazendo. Muitas vezes não é “resolver um problema” o fundamental, mas sim assumir um posicionamento. A consciência frente às nossas decisões e situação no mundo é que se desenvolve com este tema, pois terminamos por perceber que resolvendo ou não um determinado tema “tudo, ainda, está bem” e, de uma maneira mais profunda e ousada: “eu me amo tal como sou”.
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