• 1 de abril de 2016

    A vida não é um show

    – Tá difícil sabe?

    – Sei, mas me diga: porque está difícil?

    – Não sei direito… no começo é mais empolgante sabe?

    – Sim. E agora?

    – Tá meio chato.

    – O que é chato?

    – Entra na rotina… não tem mais tanta novidade…

    – E porque tem que ter isso tudo?

    – Para animar a gente!

    – Você não sabe se animar sozinho?

    – Como assim?

     

    Cada vez mais as pessoas tem se tornado dependentes emocionais do meio que as cerca. A vida não é um show dedicado à você e ao seu prazer, elementos como motivação, desejo, empolgação e bom humor precisam ser auto administrados. Você sabe como fazer isso?

     

    Adoro festas, adoro eventos, adoro adrenalina. Gosto de esquiar pelas vias não autorizadas e enfrentar a velocidade, a dificuldade da neve e das pedras e árvores que aparecem no caminho. Gosto de, todos os dias, ir para a academia, ir fazer meu café, trabalhar, voltar para casa, ficar com minha esposa e dormir. Será que a primeira parte é vida enquanto a segunda é a monotonia que um dia me levará à depressão?

    Não.

    Ocorre que o discurso que vende-se de que a vida deve ser um show é absurdo, simples assim. Em primeiro lugar, um show precisa de preparação, organização ou não irá ocorrer. Em segundo lugar, quem vai tocar no show, por exemplo, precisa de horas de dedicação à guitarra, voz, baixo ou bateria. Shows não aparecem “do nada” e é preciso dinheiro para entrar no show. Esta parte o discurso não revela, são as letras miúdas do contrato.

    O problema é que a propaganda apenas mostra a parte “alegre” da coisa, em um trailer emocionante. Porém a realidade, em sua totalidade é outra. Falemos de rotina: a pessoa que todo dia faz algo diferente é uma pessoa rotineira. Como assim? Simples: “todos” os dias ela faz “algo diferente”. Fazer algo diferente é a rotina dela. “Ah, mas eu gosto disso”, perfeito, é exatamente este o ponto: não adianta fugir da rotina, mas sim criar uma que seja boa para você.

    Outro ponto, a rotina que você escolhe, independente de qual seja, precisa de dedicação para florescer. Nada na vida é um trailer de cinco minutos sempre. Há muita preparação antes. Me lembro de andar de carrinho de rolamento quando era pequeno. Uma descida de no máximo 1 minuto tinha como requerimento uma subida cansativa de uns 10 minutos com o carrinho na mão. Não se trata de “par de opostos” e sim de “preço”, o valor que temos que pagar para adquirir aquilo que queremos, mesmo que isso seja diversão.

    Em terceiro lugar o problema é que na maior parte do tempo não estamos eufóricos. Embora a propaganda nos diga que devemos estar – afinal “viver é o máximo” – o fato é que na maior parte do tempo estamos com nosso estado padrão de humor, nem muito mais e nem muito menos. Assim, solapa-se mais um fundamento da “vida-show”.

    Estes três pontos são a base na qual aprendemos a criar nossa auto motivação. Em primeiro lugar compreendendo que a rotina é algo que irá fazer parte sempre de nossa vida, daí a responsabilidade em buscar uma que seja adequada para você. Em segundo lugar, a dedicação para manter e aprimorar esta rotina afim de que você possa compreender mais sobre a vida que escolhe para você. Por fim, compreender os seus estados de humor, associá-los com a vida que leva e aprender a administrar suas emoções ao invés de se culpar por não estar eufórico o tempo todo.

    E aí, vai viver de verdade, ou só de shows?

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