• 2 de maio de 2016

    Continuidade ou qualidade?

    – Mas e como vou falar isso para ele?

    – Qual o problema?

    – Ele não via gostar…

    – Sei que não.

    – E se a gente brigar?

    – Pelo menos vai ser por um motivo bom e não essas briguinhas bobas que vocês tem tido.

    – É verdade.

    Muitas pessoas evitam o conflito com pessoas importantes afim de manter a harmonia e a proximidade com estas pessoas. Porém, até que ponto manter a proximidade deve ser o critério mais importante à ser levado em conta?

    Em primeiro lugar é importante compreender que humanos são seres gregários, ou seja, estamos biologicamente prontos para funcionar em grupos, não é apenas uma questão cultural. Assim sendo, ser excluído ou sentir-se excluído é um fator estressante para nós.

    Por outro lado, é importante verificar que o ser humano também consegue viver só. A solidão pode ser dolorida, porém não torna a vida impraticável. Os eremitas mostram isso desde o início dos tempos e muitas pessoas sentem-se muito bem em passar períodos longos de tempo apenas com elas mesmas.

    A verdade é que ambos são necessários para uma vida mental saudável: a vida em comunidade e a vida consigo. Alcançar níveis satisfatórios nessas duas questões é importante não apenas para nós, mas para as nossas relações. Dizer que somos gregários e que a solidão é algo difícil não é o mesmo que afirmar que devemos “topar qualquer coisa” para estarmos perto de pessoas – mesmo as que amamos e são importantes.

    É importante criar relações que satisfaçam elementos importantes e fundamentais de cada indivíduo. Esta é a maneira mais complexa de estabelecer vínculos, pois pressupõe honestidade e auto percepção. Boa parte das relações humanas acabam tornando-se repetitivas e mecânicas assim como no filme de Chaplin “Tempos Modernos”. Muitas pessoas mantém casamentos e outras relações apenas “apertando os botões” do dia a dia.

    Ser honesto é difícil porque, o tempo todo, precisamos verificar aquilo que desejamos e nos dizer como estamos nos sentindo em relação à nossa vida e relações. Esta dificuldade, por outro lado, repercute em relações leves, nas quais se constrói uma vida à dois de fato, personalizada e atualizada sempre. É o lema de que o preço da liberdade é a eterna vigilância.

    Vigiar aqui não em um sentido policial, mas sim de estar atento à sua saúde mental. O maior problema que vejo no consultório é que as pessoas resolvem abrir mão das pequenas coisas afim de não terem incômodos com o outro. Ledo engano, ao final sempre terão o incômodo, porém, por outras coisas que não são importantes. Se for para brigar, sempre digo, brigue por algo que vale à pena. E então, fica a pergunta: você “briga” pelo que vale à pena?

    Abraço

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