– Não posso Akim, não dá!
– Muito bem, então você continua assim desse jeito.
– Eu não consigo também… é horrível acordar todo dia e pensar no que aconteceu.
– Eu sei, mas infelizmente, enquanto você precisar mantê-lo em cima de você…
– Como assim “em cima de mim”?
– Em cima oras. Cada vez que você se lembra, re-afirma para você mesma o que aconteceu e se coloca na mesma posição.
– Eu preciso me livrar disso.
– Precisa aprender com isso.
– Aprender o que?
Estar ressentido com alguém é algo comum em nossas vidas. O ressentimento pode nos ensinar muito sobre quem somos e como nos relacionamos com as pessoas. O aprendizado não é fácil, mas é, sempre, enriquecedor.
Poderíamos fazer um trocadilho rápido com a palavra ressentimento e separar as sílabas re-sentimento dando a conotação de sentir novamente (re-sentir). No entanto o ressentimento não é apenas um re-sentir, é muito além disso, trata-se de uma re-afirmação.
Quando estamos ressentidos com alguém por algo que ocorreu ficamos nos lembrando do que a pessoa nos fez. Até aí é normal e saudável que ocorra para que possamos aprender com o que nos ocorreu. Porém, no ressentimento o que ocorre é que vivenciamos a cena novamente sem possibilitar o aprendizado. Daí ocorre que, na verdade apenas nos magoamos novamente e permanecemos no mesmo papel que nos coube no passado.
Se sou o mesmo que fui e o que aconteceu comigo é o mesmo evento e me mantenho sem saber como me proteger é óbvio sentir-me mal novamente. Também é óbvio colocar o outro no mesmo papel que ele tinha e eu no mesmo papel: o da vítima. O aprendizado que o ressentimento esconde é justamente o de ver, novamente, o que aconteceu, para acreditar no que ocorreu.
Não nos ressentimos para ficar nos magoando à toa e sim para “cair a ficha”. O ressentimento serve para nos tirar do papel de vítima da situação de uma forma ou de outra. Não é que vamos mudar o nosso passado, mas sim o nosso futuro. Libertar-se do ressentimento significa compreender e aceitar o que aconteceu assim como sua própria reação ao que ocorreu.
A partir daí vem a reflexão: o que o colocou como vítima nessa situação? Foi a atitude do outro? Foi a sua reação? A sua percepção daquilo que estava acontecendo? Identificar o que lhe fez vítima e assumir um papel pró ativo na próxima vez é o que o ressentimento deseja.
Este papel, porém, vem com um adendo. Para que o ressentimento complete seu círculo de aprendizado a pessoa precisa, de fato, sair do papel de vítima. Para fazer isso ela precisa parar de identificar o outro como um agressor – por mais que a pessoa tenha sido agredida – porque enquanto faz isso ela ainda precisará reagir ao agressor – o que a torna, paradoxalmente, sempre vítima.
Uma vez que ela liberta o outro da condição de agressor, por tabela ela também sai do papel de vítima. Tornado-se alguém que aprendeu e terá novas reações não de maneira reacionária e sim de maneiras pró ativa. Em outras palavras, não é algo que a pessoa fará “para mostrar ao outro”, mas fará porque, de fato, “aprendeu”.
Abraço