• 18 de maio de 2016

    Pausas

    – Mas Akim, eu gosto do meu dia a dia.

    – Eu sei, está perfeito isso.

    – Mas então… vou parar de fazer isso?

    – “Parar” é a palavra certa?

    – Não… eu não tenho que parar.

    – Então?

    – Tirar umas férias da minha rotina?

    – Me parece mais promissor.

    Sou um defensor da rotina. Em primeiro lugar porque ela é inevitável, em segundo lugar porque ela pode ser algo muito bom para nossa vida. Porém, como diz o ditado romano: “na guerra sempre deixe espaço para infortúnios”, algumas vezes é importante deixar a rotina e fazer uma pausa.

    Conta uma história zen que um fazendeiro andava próximo de um mosteiro quando ouviu duas pessoas bêbadas conversando dentro dos jardins. Furioso, ele entrou no mosteiro para brigar com os vagabundos que estavam bebendo dentro daquele lugar santo. Logo que entrou, ele deu de cara com os vagabundos: dois monges. Mais enraivecido ainda ele bradou: “que vergonha, dois homens santos enchendo a cara! Onde está o seu respeito pelos votos?”. Os monges responderam: “meu caro senhor, monges também precisam de férias”.

    O problema com nossa sociedade é que ela tem uma tradição de antagonizar eventos “opostos”. O zen assim como o pensamento oriental, trata os opostos como duas formas diferentes do mesmo elemento. Ou seja, enquanto, para nós, as férias são o oposto do trabalho, para eles férias e trabalho são partes do mesmo ciclo.

    O ciclo que engloba tanto o trabalho quanto as férias é a rotina. Você pode conceber férias e trabalho como posições equidistantes em relação à rotina do dia a dia. Enquanto o trabalho necessita de uma rotina sendo seguida diariamente, fazendo praticamente a mesma coisa todos os dias, as férias é o momento em que você faz coisas que não faz durante o trabalho e insere outros elementos no seu dia a dia. Ela não é libertária, apenas um momento para fazer outras coisas.

    Quando se pensa no ciclo férias-trabalho de maneira orgânica, a rotina não se torna enfadonha e os momentos de férias e de pausas se tornam algo natural e não algo fora do natural. Costumo dizer que quem sabe se administrar não precisa de férias – no sentido que damos aqui no Ocidente. Digo isso porque quem procura seguir os ritmos do seu próprio corpo e desenvolvimento aprende, na rotina, a se equilibrar e compreende, através dessa prática, quando é o momento de sair da rotina, de criar uma pausa, de ver outra coisas. Falhamos, no Ocidente, em sentir o desejo disso, criamos uma cultura que anseia por isso por ver-se presa na rotina e não por partilhar dela de maneira saudável.

    Em alguns momentos precisamos de mais tempo livre, mais tempo para nós. Em outros precisamos descansar ou equilibrar a alimentação, em outras situações o que se precisa é divertir-se. Todos esses elementos podem ser necessários quando damos uma pausa e fazemos um “intensivo” em algum elemento de nossas vidas que está faltando ou de difícil acesso no meio de nossa rotina. Desenvolver esta percepção é fundamental para uma vida saudável.

    Abraço

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