• 25 de maio de 2016

    Tiranos internos

    – Mas Akim… não sei se eu deveria fazer isso.

    – E porque não?

    – Não sei se é certo.

    – Peraí… acabamos de ver que é, analisei contigo tudo!

    – É… é… eu sei… sempre acaba nisso. Tá… eu sei que é certo, mas algo me diz que não é.

    – Ah, entendi. O que esse “algo” diz?

    – Que na verdade eu mereço que não dê certo.

    – E porque merece isso?

    – Porque não sou uma boa pessoa.

    – Não te parece “abstrato” demais isso?

    – Ai, parece, mas é tão forte.

    – Sim… vamos trabalhar com isso então.

     

    Muitas pessoas sabem o que devem ou precisam fazer em suas vidas. Refletem e percebem uma saída para seus problemas ou uma forma de buscar aquilo que querem. Porém no momento da ação estes “tiranos” aparecem com seus ditos descontextualizados e estragam a nossa evolução pessoal. O que fazer?

    Em primeiro lugar é importante ver que o Tirano é um Tirano. Ele não é um juiz, como costumamos dizer por aí, não é alguém julgando o que você pensa em fazer. Porque não? Porque o juiz busca pela justiça, o Tirano não. Em minha prática clínica sempre que a voz do Tirano surge não importa o quanto a pessoa esteja certa, justa ou bem intencionada, ela, simplesmente é tida como errada.

    O Tirano é uma voz interna que age com base em motivações próprias. Ele não se importa com a verdade ou a necessidade da pessoa, apenas se importa em afirmar uma “verdade” que ele mesmo escolheu. O que o Tirano diz? cada pessoa ouve um dito dele, questionar este dito é menos importante do que questionar como esse dito lhe faz sentir. Dizer que você “não é uma boa pessoa” como no exemplo acima pode fazer com que a emoção da culpa se manifeste, ou a pessoa pode sentir-se cobrada ou ainda triste consigo mesma.

    Cada emoção nos fala a respeito da experiência interna da pessoa frente aquilo que o Tirano afirma sobre ela e é com base nessa sensação que a libertação poderá vir. Ainda tomando o caso acima do dito “você não é uma boa pessoa”, se o sentimento é de culpa, pergunte-se: o que você fez de errado para não ser uma boa pessoa? Onde você errou? Provavelmente você trará muitas memórias de pequenos trechos da sua vida, este é o momento de se perguntar se o rótulo “não é uma boa pessoa”, é suficiente para estes momentos ou se não é um exagero.

    O exagero é sempre onde o problema está porque ele se trata de um dito tirânico que não possui referência concreta, ou, na melhor das hipóteses, as referências nas quais se apoia o dito são insuficientes para afirmar o que ele afirma. O Tirano geralmente é criado das nossas imaturidades, por isso o seu raciocínio é sempre defasado. A imagem do início do post trata bem da imagem que faço dos Tiranos internos das pessoas, uma criança com um cetro, mostrando a língua enquanto você não tirá-la do trono e colocá-la no devido lugar.

    O poder do Tirano está na emoção, quando você sente algo que ele quer usar contra você, ele diz: “viu só, falei que isso ia acontecer”. Na culpa, por exemplo, se a pessoa fizer algo em alguma situação na qual sinta-se culpada – e esteja certa em sentir-se assim – o Tirano irá assombrá-la. Mas este é o momento em que é necessário desfazer as ligações infantis que o Tirano faz e que tanto nos aprisionam. “Sim, senti-me culpada porque fiz, de fato, algo errado. Já pedi desculpas e não vou mais fazê-lo, agora, com licença que eu não vou assumir o papel de pessoa ruim não”. E deixar a criança gritando impropérios. Desenvolver-se muitas vezes significa aceitar as imaturidades que carregamos e ajudá-las à crescer.

    Abraço

     

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