• 1 de junho de 2016

    O desejo

    – Eu não sei o que eu faço Akim.

    – Sabe sim. Esse, inclusive, é o problema.

    – Eu acho que eu sei o que eu quero…

    – Mas?

    – Mas é certo isso?

    – Não é certo ou errado, é o seu desejo. A questão é: dar sequência à ele é algo que é bom para você?

    – O pior é que é.

    – Mas tem consequências não é mesmo?

    – Tem.

    – O problema, então é o querer ou as consequências?

    Muitas pessoas temem seus próprios desejos. Embora isso possa parecer absurdo para a nossa cultura baseada no desejo, o medo dos nossos desejos está alicerçada no ato de desejar que é por demais profundo em seus significados e um deles pode sim, nos causar grande temor.

    O desejo não é algo que nasce da vontade da pessoa, ele apenas vem, de raízes inconscientes, fantasias ou simplesmente daquilo que Joseph Campbell chamou da luta dos órgãos entre si. O ato de desejar não pede licença à razão ou à consciência, ele é involuntário: ninguém precisa se esforçar para que desejos e fantasias venham à tona.

    Quando o desejo vem à tona, a consciência e as emoções assumem postos. Sentimos o desejo, criamos imagens de como realizar e do que pode ocorrer em seguida, percebemos o corpo e mente se organizando para a ação. Ou simplesmente dizemos que não e encerramos o processo, deixamos o desejo de lado.

    Desejo e consciência criam uma comunicação. Eles criam uma relação. Em algumas pessoas essa comunicação é prazerosa e vem em mão dupla, em outras é truncada e algumas sequer permitem a conversação. A maneira pela qual a pessoa se relaciona com o desejo é dúbia à princípio porque o desejo é algo estranho à pessoa. É estranho por não nascer na consciência, assim, faz uma “visita” ao “eu” e à ele pede passagem.

    Nesse sentido é que admiramos e tememos o desejo ao mesmo tempo. O fato de que algo “nasce” em nós sem a nossa “supervisão” causa uma admiração – principalmente se o desejo é uma “boa ideia” – e um temor pelo fato de não sentirmos que controlamos essa criação. Por isso, uma visão mais profunda de quem somos é necessária para lidar com o desejo.

    Embora ele não nasça da/na consciência, o desejo é um “servo do organismo”, ou seja, ele está relacionado com a mesma matriz na qual a consciência nasce. Assim os desejos são uma maneira do organismo se comunicar com a consciência. O grande problema das mentes conscientes que possuem um “eu” como é a mente humana, é que esse “eu” acha, de alguma forma, que é ele quem comanda o show, ele que é o centro quando, como diria Clement Rosset, “o eu é apenas mais uma experiência”.

    O organismo humano dentro do qual o “eu” nasce é repleto de experiências, inúmeras das quais o eu nem sequer participa. Assim, quando um desejo emerge, ele traz, consigo, elementos estranhos, porém comuns ao “eu”. O nosso problema é que não sabemos reconhecer esses elementos e, muitas vezes, os tememos – justamente por não reconhecer.

    Desejar é um ato que informa e motiva o eu, porém isso não significa que o eu deva obedecer cegamente o desejo, mas sim que ele deve reconhecer o desejo. Esse, inclusive, é o ponto principal do ato de desejar: reconhecimento. Ao reconhecer, aceitamos aquilo que desejamos e, com isso, decisões podem começar a ser tomadas e percepção sobre o que ocorre no nosso organismo “maior” também.

    Então, aqueles que temem o desejo é porque percebem que ele traz elementos desconhecidos do eu, porém lidar com este medo significa reconhecer e aceitar esses elementos para poder manipulá-los de alguma maneira. O desejo nunca é errado, nunca é impuro, ela apenas é. Torná-lo algo viável para você é que é o desígnio da consciência, do eu.

    Abraço

     

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