• 24 de junho de 2016

    Escolhendo defeitos

    – Eu não aguento mais isso nele.

    – Eu sei.

    – Não sei o que fazer mais.

    – Sim, me parece que o primeiro ponto é: você aceita esse defeito nele?

    – Sim, sei que ele é assim e que não vai mudar.

    – Ok, agora a pergunta é: você quer e sabe como lidar com este defeito dele?

    – Eu acho que não para a segunda e não sei para a primeira… complicada né?

    – Nem tanto… é uma escolha difícil mesmo.

     

    Cada vez mais as pessoas desejam parceiros perfeitos, seres iluminados que vieram ao mundo com um único propósito: atender todas as nossas expectativas. Longe da realidade o fato é que ao escolher alguém para viver é necessário escolher, também, que defeitos conseguimos ou não lidar.

    A tarefa de perceber os defeitos do outro sempre nos faz torcer o nariz. Imaginar que a pessoa que desejamos possui defeitos e limitações é um desafio muito grande para muitas pessoas que muitas vezes preferem terminar uma relação do que seguir ciente das limitações do outro.

    O auto conhecimento, novamente, vem em nosso auxílio nesta tarefa. Lidar com os defeitos dos outros é uma boa maneira para tentar compreender se sabemos ou não como lidar com os defeitos das pessoas. Os critérios que tenho visto as pessoas usarem com sucesso são o de reconhecer que o defeito as incomoda, buscar soluções que mantenham o incomodo num nível baixo e com baixa frequência e não sentirem culpa em se afastarem quando necessitam.

    Estar ciente de um defeito ou limitação no conjugue e aceitar lidar com isso requer um exame mais aprofundado. Não se trata de “tolerar”, ou seja, aceitar que o outro é da forma que é e não fazer nada com isso. Aceitar implica em agir de uma maneira a estar o máximo defendido possível, mesmo sabendo que um certo nível de dano irá ocorrer. Costumo fazer uma comparação com pessoas que escolhem profissões insalubres e aceitam trabalhar com altos volumes, cientes de perder um pouco da audição mesmo usando equipamento de segurança.

    Você tem que estar ciente de como vai lidar com o problema, dos danos que ele vai lhe trazer à médio e longo prazo e aí sim decidir: aceito lidar com isso? Aceito viver com este tipo de problema? A escolha deve ser feita respeitando ao máximo a sua integridade. Algumas vezes o problema pode ocorrer poucas vezes, mas trazer um estrago muito grande e a pessoa pode desejar não se relacionar com isso.

    Embora possa soar estranho dizer “respeitar-se” quando falamos em aceitar um problema a ideia não é inadequada. Partindo do suposto de que um conjugue sempre terá algum tipo de defeito, limitação ou hábito que não aprovamos ou gostamos e que queremos ficar com esta pessoa, é importante nos perguntar se realmente aceitamos o defeito e as consequências do mesmo afim de manter a nossa escolha integra. O mesmo vale para a profissão, por exemplo, todas elas nos trazem uma dose de estresse em relação à algum ponto, aceitar isso e buscar formas de lidar com este estresse é fundamental para manter uma boa relação com sua profissão.

    Perguntar-se, então, qual as consequências que determinadas atitudes, defeitos ou limitações do outro podem me trazer e se aceito estas consequências é o primeiro passo, junto com ele é importante perguntar-se se você sabe como lidar com o comportamento indesejado e com as consequências dele sobre você afim de manter-se íntegro e honesto na relação. Por fim, perguntar-se: “quero lidar com isso mesmo?”. Relações dão trabalho, lembre-se disso.

    Abraço

     

     

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